O compadrio em política e administração pública se faz presente em nossa história há séculos.
A ineficiência do serviço público deve-se, quase sempre, ao inchaço da máquina administrativa, geralmente ocupada por pessoas despreparadas, a maioria delas içada aos cargos por seus padrinhos políticos.
É comum o chefe do Poder Executivo (prefeito, governador, presidente da República), no início de seu mandato, abarrotar as páginas da imprensa oficial com atos nomeando pessoas suas ou indicadas por correligionários seus. E nessa leva, amontoam-se os cargos de confiança, geralmente ocupados por pessoas absolutamente despreparadas para exercerem qualquer função pública.
Todavia, são apadrinhadas porque prestaram favor aos políticos em suas campanhas eleitorais ou são parentes de correligionários.
Há casos em que até passam a frequentar as páginas do folclore político nacional. Por exemplo, o jornalista Sebastião Nery fez o registro.
Vitorino Freire (1908-1977), político pernambucano nascido na fazenda Laje da Raposa, em Pedra, mas radicado no Maranhão, lá reinava tranquilo e sereno. Mandava, desmandava. Era senhor absoluto dos votos no estado durante décadas.
Vitorino tinha um compadre a quem lhe devia favores eleitorais. Chamou-o ao Palácio dos Leões, sede do governo estadual.
– Compadre, já consegui sua nomeação para professor de grego no Ginásio Estadual, aqui em São Luís.
– Que é isso compadre? Mal sei ler português, nunca vi uma palavra grega.
– Não tem importância. Como a disciplina é optativa, não há nenhum aluno matriculado.
Todo mês o compadre de Vitorino Freire comparecia ao Ginásio Estadual para assinar o ponto e habilitar-se para receber os vencimentos. Sem conhecer sequer uma letra grega.
Um dia foi comunicado pela direção do Ginásio que um aluno havia se matriculado para estudar grego. Ficou em pânico. Procurou Vitorino Freire.
– Compadre tem um aluno matriculado. O que faço?
– Tinha. Não tem mais. Já mandei prendê-lo. Um sujeito que quer estudar grego aqui em São Luís é doido ou comunista.
O compadre continuou professor de grego.
Os tempos mudaram. Hoje o Maranhão é governado pelo comunista Flávio Dino (PCdoB).
Coisas do sertão
O zoólogo e pesquisador Paulo Vanzolini (1924-2013), autor de Ronda, talvez a música mais tocada na noite boêmia paulista, costumava contar o caso de um prefeito do interior do Nordeste.
O repórter pergunta ao prefeito:
– É verdade que o senhor nomeou seu filho para um cargo na Prefeitura, embora ele não tenha qualificação para exercer a função?
– É verdade. Nomeei, sim. E daqui a alguns anos nomearei o filho dele, e mais tarde, o neto dele e se puder o bisneto dele.
– Por que prefeito?
– Porque quem manda na minha família sou eu. E chispe daqui.
O repórter chispou.
Pouca coisa mudou.
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