PCdoB: quando a foice e o martelo se desgastam

“Quem não muda deixa de ser” (Menotti Del Picchia, 1892-1988)

Nos últimos anos o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) abandonou sua história e se permitiu tornar-se um puxadinho do Partido dos Trabalhadores (PT).

Embora a direção do partido negue, a foice e o martelo se desgastaram e estão dando lugar ao chamado Movimento 65, por uma razão muito simples, que os seguidores do partido também negam: não há mais espaço para a defesa das ideias comunistas no mundo, consoante o ideário tradicional da agremiação.

O PCdoB quer se aproximar da população e distanciar-se do PT, mas Lula da Silva percebeu o movimento e está tentando costurar uma duvidosa aliança com o partido, a partir do governador Flávio Dino, do Maranhão.

Ingênuo, à semelhança de Sérgio Moro – ambos são ex-juízes federais – o governador do Maranhão parece acreditar em Lula da Silva. Mas Lula já alardeou por aí, sem rodeios, que o PT não nasceu para ser coadjutor de ninguém. Noutras palavras: mesmo Lula prometendo mundos e fundos a Flávio Dino, o PCdoB vai ser sempre linha auxiliar do PT, se continuarem juntos.

Embora reconhecidamente abrigo e idealizador de maracutaias, o PT tem robustez suficiente para sustentar-se durante longos anos, pelo menos enquanto o morubixaba Lula da Silva se mantiver no controle das rédeas subservientes do partido.

Messiânico, Lula diz o que o partido deve fazer, o que os dirigentes do partido devem obedecer e o que a militância do partido quer ouvir.

O PT é Lula. O resto é hipocrisia. Presidentes nacional, estaduais e municipais da legenda são decorativos. Lula dá as cartas e todos baixam a cabeça. Os diretórios do partido homologam a vontade de Lula.

Estratégia à parte, o PCdoB diz agora que está de “portas abertas para pessoas progressistas”, com o intuito de “construir um país melhor, com boas ideias e gestão eficiente”, já a partir das eleições municipais de 2020.

O PCdoB sempre encontrou resistências nos setores conservadores do Brasil, de modo que o atrelamento ao lulopetismo somente dificultou seu voo próprio. Esta a razão do Movimento 65, que o partido quer levar às ruas, cutucar os eleitores e tentar conquistá-los nas urnas.

Ciente do desgaste da foice e do martelo e escorregando na corrosão de suas ideias, o PCdoB diz agora que seu “objetivo é eleger em 2020 lideranças que garantam cidades democráticas para o Brasil”.

O PCdoB vai precisar mudar muito, inclusive explicar à sociedade e convencer os setores mais resistentes, que democracia não se compatibiliza com as ideias de Joseph Stalin, cujo legado o partido reivindicou desde o início na década de 1950, tampouco com as táticas de guerrilhas que adotou na década de 1960 e com o pensamento maoísta chinês.

No mais, o PCdoB é igual a todos os demais partidos: um arcabouço jurídico que sustenta as exigências da legislação eleitoral e permite que filiados votem e sejam votados. Existe para isto.

Ideia é o que menos existe nesse amontoado de excrescências partidárias.  

Talvez o PCdoB tenha entendido que é preciso mudar para ser.

Há tempo para tudo.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário