O charme de Patamuté

O charme de Patamuté está em suas dificuldades, inclusive de acesso.

É difícil chegar lá. As estradas são esburacadas, ruins, difíceis.

Mas o alcaide-mor de hoje se espelhou nos prefeitos do passado e diz que está tudo bem em Patamuté. Então tá.

Quando chegamos a Patamuté a emoção é intraduzível. Chega a ser romântico rever as casas antigas, as pedras disformes do mármore surrupiado do lugar, a humildade das pessoas, a poeira das ruas, o riacho Paredão, a igreja de Santo Antonio, o atoleiro dos carros em épocas de chuva, etc.

Todos os moradores se conhecem, todos sabem notícias dos outros, todos perguntam “cadê fulano de tal”, todos jogam conversa fora nas calçadas, mandam recados, beijos, abraços.

Aos sábados, dias de feira, os sertanejos saem de seus sítios, fazendas e rústicas construções e vão se encontrar na rua de Patamuté, para conversar, falar dos criatórios, da chuva que pareceu chegar, mas não chegou, tomar cachaça nos balcões dos poucos bares que lá existem, fazer a feira para a semana.

Confraternizam-se, abraçam-se e dão o adeus até o sábado seguinte.

Quanto ao asfalto, que faz parte dos sonhos de Patamuté, eita coisinha difícil de acontecer! Não é um sonho grande, mas parece impossível.

E por que não acontece? Porque os homens públicos de Curaçá são politicamente fracos, subservientes, pequenos demais. Falta-lhes altruísmo, falta-lhes vontade de lutar pelo lugar e falta-lhes capacidade de saber exigir.

Falta-lhes grandeza política e sobra afago ao governador, seja ele de que partido for, deputados, senadores, et cetera.

Os políticos se apequenam e contentam-se em tirar fotos ao lado de autoridades estaduais e federais.

Pergunta-se: e o governador do Estado? A resposta é simples. A Bahia nunca teve governador, teve simulacros de governador, figuras opacas, mesquinhas, preguiçosas, narcisistas, arrogantes, politiqueiras, despreparadas como estadistas.

O peso dos votos de Patamuté e dos eleitores da caatinga de lá é insuficiente para pressionar quem tem o poder de levar o asfalto para o lugar.

Recentemente a Igreja Católica Apostólica Romana elevou a gruta de Patamuté à condição de Santuário. Parou por aí. Não se sabe de nenhum movimento das autoridades para fomentar o turismo e movimentar a economia do lugar, pelo menos em ocasiões de romarias. Mas cadê a estrada?

Terraplenagem, tapa-buraco e paliativos em ocasiões sazonais não resolve. É o que é feito anualmente.

Mas digo que o charme de Patamuté está em suas dificuldades, porque por lá o povo precisa viver e outra maneira não há, ainda, senão viver em meio às dificuldades.

Hoje há modernismos para se chegar a Patamuté. Esse bicho chamado GPS ainda não tem muita serventia.

Chega-se lá perguntando aos sertanejos, ao longo do caminho, mais ou menos assim: qual é a estrada que vai pra Patamuté?

Um dia Patamuté chega ao seu destino.

Basta substituir os homens públicos.

araujo-costa@uol.com.br

Uma consideração sobre “O charme de Patamuté”

  1. Realmente Patamuté foi esquecida pelo poder público, falta muita coisa, mas o aconchego de seus habitantes tem de sobra. Amei esta aldeia cravada na caatiga nordestina. E lhe juro se eu fosse mais jovem lá seria a minha morada.

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