Na década de 1980, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) ainda engatinhava, uma animada turma costumava se reunir no bairro de Perdizes, em São Paulo, geralmente no convento dos frades dominicanos.
Essa turma compunha-se dos seguintes frequentadores, dentre outros: Lula; Djalma Bom, que foi deputado e vice-prefeito de São Bernardo do Campo; Jacó Bittar, amigo de Lula desde sempre, pai do dono formal do famoso sítio de Atibaia; Devanir Ribeiro, que tinha sido diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema na gestão de Lula; o combativo advogado de presos políticos Luiz Eduardo Greenhalgh; Paulo de Tarso Vannuchi, mais tarde ministro de Lula e o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, frei Betto.
Frei Betto coordenava o grupo e cuidava da comida, experiência adquirida na Ordem dos Dominicanos.
Propósito das reuniões: fazer autocríticas, ouvir críticas dos companheiros e confessar erros e equívocos dos presentes. Uma espécie de confessionário especial e coletivo, embora restrito.
O grupo recebeu o nome de “Grupo do Mé”, porque era regado a conhaque e outras bebidas estimulantes do ego, que permitiam a descontração e a expiação dos defeitos de cada um dos participantes, a submissão às críticas, a penitência.
Lula da Silva aprendeu muito nesse grupo. Mais pela autocrítica – que hoje não gosta de fazer – e menos em razão do “mé”, que ele já conhecia de cátedra. As circunstâncias difíceis da ditadura exigiam as amizades como bálsamo para o enfrentamento das dificuldades.
Os tempos mais difíceis são aqueles de atrocidades.
Esta lembrança vem a propósito da visita que Lula da Silva fez ao Papa Francisco, no Vaticano, nesta semana de fevereiro.
Surgiram algumas críticas destrambelhadas sobre a visita, como se Lula da Silva fosse uma figura de somenos. Não é.
A direita, assim como a esquerda, exagera sempre.
Lula da Silva ainda é líder, independentemente dos erros que eventualmente tenha cometido ao longo do caminho político que vem trilhando.
A visita de Lula da Silva ao Papa, também tem o condão de reflexão e pedido de compreensão e de solidariedade ao chefe da Igreja Católica Apostólica Romana.
Não há o que criticar sobre essa visita de Lula ao Papa, que é também chefe de Estado do Vaticano e tem o dever funcional de relacionar-se com líderes mundiais sejam eles políticos ou não.
As misérias e fraquezas de Lula da Silva não devem ser obstáculos à civilidade.
Nessa visita ao Vaticano, Lula deve ter-se lembrado das reuniões do “Grupo do Mé”, que lhe fez refletir muito sobre a vida.
Certamente voltará mais leve.
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