Em setembro de 1971, forças de segurança nacional baseadas na Bahia assassinaram o capitão Carlos Lamarca, desertor do Exército Brasileiro.
Calos Lamarca, guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) rebelou-se contra o Brasil e optou pela guerrilha e contra os governos militares.
Muitos fizeram isto: Dona Dilma Rousseff, José Genoíno, ex-presidente do PT, Franklin Martins, que foi ministro de Lula, o jornalista Fernando Gabeira, José Dirceu de Oliveira e Silva, também ministro de Lula, dentre muitos.
Esses sobreviveram às intempéries da repressão. Mais tarde se especializaram em locupletar-se de dinheiro público nos governos petistas. As exceções são Fernando Gabeira e Dona Dilma Rousssef, que não furtaram, até prova em contrário.
Carlos Lamarca estava escondido em Ipupiara, região de Brotas de Macaúbas, na Bahia. Lá foi fuzilado pela direita debaixo de uma árvore, em nome da Segurança Nacional.
A operação repressiva contou com 200 agentes federais.
Anos adiante, veio a Comissão Nacional da Verdade e recuperou a memória da ditadura. O capitão Carlos Lamarca adquiriu mais espaço na história e a família foi indenizada. O crime que ceifou a vida do capitão Lamarca foi cometido pelo Estado brasileiro. Restou o dever de indenizar.
Agora, a Polícia Militar da Bahia assassinou Adriano da Nóbrega, ex-militar fluminense e miliciano condenado pela Justiça, que estava foragido em Esplanada, homiziado em terras baianas.
Diferença entre Lamarca e Adriano: Lamarca se embrenhou na guerrilha e lutou contra as instituições nacionais. Cometeu crime político; Adriano se envolveu com a delinquência em alta escala. Cometeu crime comum.
Fato comum entre eles: ambos escolheram a Bahia para fugir das forças de segurança. E lá foram fuzilados.
O governador Rui Costa e o presidente Bolsonaro entraram na discussão, desnecessariamente. O governador Rui Costa defende as forças de segurança da Bahia, que é seu dever; o presidente Bolsonaro joga lenha na fogueira política.
A discussão é inoportuna. O intuito da polêmica entre ambos tem como pano de fundo a eleição presidencial de 2022.
O que deveria ser tratado no âmbito do cumprimento de um mandado judicial resvalou para a seara política. Tempos estranhos esses!
O presidente Bolsonaro é candidatíssimo à reeleição.
Rui Costa, o melhor nome do Partido dos Trabalhadores (PT) para disputar a eleição presidencial, só não será candidato se Lula da Silva jogar casca de banana em seu caminho. Quem conhece Lula sabe que ele está disposto a deixar escorregadio o caminho do governador da Bahia.
O candidato de Lula não é Rui Costa. O PT obedece a Lula. Mais do que isto: o PT agacha-se diante de Lula. Lançará quem Lula quiser.
E surge essa discussão estéril sobre a morte do ex-policial do Rio de Janeiro.
A esquerda saiu na frente, atabalhoadamente, sem pensar, para dizer que a morte do ex-policial Adriano da Nóbrega foi queima de arquivo, que beneficiaria a família Bolsonaro.
Só não conseguiu explicar qual o interesse da esquerda em participar do assassinato, já que foi a Polícia Militar da Bahia, estado governado pela esquerda, que o executou. Contraditório.
A direita, por sua vez, está confortável. Os tiros que ceifaram a vida do ex-policial não partiram da direita, que está sendo acusada, amiúde, por tudo de ruim que vem acontecendo no Brasil.
O despreparo da Polícia Militar da Bahia foi descomunal. Noticia-se que 70 agentes policiais participaram do cerco e morte ao ex-policial em Esplanada.
Esse número de agentes não seria suficiente para, estrategicamente, mantê-lo vivo?
O quiproquó só aumentou.
Durma-se com um barulho desses.
araujo-costa@uol.com.br