Ebulição silenciosa no Vaticano

Duas congregações vaticanas estão em constante movimento, embora silenciosas, como é regra secular da Igreja: a Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para a Evangelização dos Povos (antiga Propaganda Fide).

As questões em análise nessas congregações podem mudar alguns dogmas e regras milenarmente caros à Igreja.

Está no meio da discussão o papa emérito Bento XVI, uma das maiores autoridades em Teologia na história recente da Igreja Católica Apostólica Romana.

Em 2007, Bento XVI autorizou a celebração da missa em latim. Essa era uma prática litúrgica antiga, que vinha sendo observada há séculos, mas o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) convocado pelo papa João XXIII, abandonou tal forma de dizer a missa.

Entretanto, milhões de jovens em todo o mundo são adeptos da missa antiga e esses jovens são importantes para a Igreja, para o futuro da Igreja.

As jornadas mundiais da juventude carrearam esses jovens, antes céticos, para o interior da Igreja e com eles a admiração da missa em latim.

Como se sabe, há conservadores e progressistas na Igreja. Mas sempre houve equilíbrio entre eles.

A Santa Sé tem sido o maior exemplo de equilíbrio nesses aproximados dois milênios.

Além da missa em latim, as discussões mais sérias que se processam no Vaticano dizem respeito ao celibato sacerdotal, ordenação de mulheres, comunhão para os divorciados e homossexualidade.

A Igreja não avançou neste particular.

Essas discussões foram ventiladas no recente Concílio da Amazônia. O papa Francisco, jesuíta propenso às mudanças na Igreja, começou a estudar essas mudanças, mas recuou.

O entendimento dos setores mais conservadores é no sentido de que, qualquer mudança pretendida na Igreja deve ser interpretada segundo as tradições milenares. Ou seja, nada muda, por enquanto.

As congregações vaticanas, órgãos de assessoramento direto ao papa, adotaram a “hermenêutica da continuidade” segunda a qual a Igreja deve obedecer estritamente às decisões do Concílio Vaticano II. O Concílio é o parâmetro maior em que se espelha a Igreja.

Como parte dessas regras, que alguns setores da Igreja querem mudar, estão as mudanças urgentes preconizadas pelas alas mais progressistas, a exemplo da flexibilização do celibato e a ordenação de homens casados.

O cardeal Dom Claudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo e ex-prefeito da poderosa Congregação para o Clero, em Roma, é um entusiasta das mudanças na Igreja.

Com ênfase, defendeu tais mudanças no Sínodo da Amazônia e – parece – quer que o papa Francisco dê andamento nas discussões.

O jornalista e escritor Marcelo Musa Cavallari, autor do livro Catolicismo, fez brilhante matéria sobre o assunto. Os católicos devem ler.

araujo-costa@uol.com.br

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