Em Curaçá, o sábio e silencioso líder Salvador

Em meu escritório, depois dos cansativos expedientes, faina e esforços necessários para minha sobrevivência, costumo receber alguns amigos, que conhecem minhas esquisitices – que são muitas – e  horários para conversar sobre amenidades.

Perguntam eles sobre meus amigos que não conhecem, minhas manias e, sobretudo, querem saber quais são meus ídolos. É difícil satisfazer suas curiosidades. Sou prolixo, quando necessário, esquisito sempre, incompreensível, às vezes um tanto néscio.

Tenho dois ídolos, nunca neguei: o mineiro Juscelino Kubitscheck de Oliveira e o mato-grossense Jânio da Silva Quadros. Paradoxo gritante: ambos eram intransigentemente antagônicos nas ideias e na forma de interpretar politicamente o Brasil.

Um amigo de décadas me pergunta, sempre: “como você pode ser admirador de Juscelino e de Jânio ao mesmo tempo, os mais ferrenhos adversários de nossa história política das décadas de 1950/1960? ”.

Deixo-o com a dúvida. Jânio e Juscelino eram maiores do que seus erros e suas contradições.

Entretanto, meus maiores ídolos foram outros, continuam sendo outros: os anônimos tabaréus do Riacho da Várzea, lá para as bandas de Patamuté, no sertão de Curaçá. Eles me ensinaram tudo que eu deveria ter aprendido e não aprendi: a sabedoria dos mais velhos. Como isto me faz falta!

Exemplo de amigo famoso que tive, que muito me envaidece: Jânio da Silva Quadros (1917-1992), que politicamente foi tudo, inclusive presidente da República.

Frequentei a casa de Jânio na Rua do Estilo Barroco, em Santo Amaro, capital de São Paulo. Jânio tinha muitos endereços.

D. Eloá do Vale Quadros, esposa de Jânio, possuía muitos imóveis.

Dizem alguns amigos de Jânio, que de fato foram seus amigos, que ele “não tinha amigos, mas admiradores”.

Concordo e confesso: sempre fui admirador de Jânio Quadros, mas daí a dizer que ele era meu amigo vai uma grande distância. E Jânio gostava de distâncias.

Ser convidado para eventos sociais na residência de Jânio não significava, necessariamente, ser amigo do anfitrião. Mas, no mínimo, era uma honra.

Conjecturas são conjecturas. E só. A subjetividade está no entender de cada um.

Mas hoje quero me referir a um sujeito decentíssimo, culto e politicamente inteligente: Salvador Lopes Gonsalves, assim como eu, filho do altaneiro município de Curaçá..

Este senhor a que me refiro foi eficiente prefeito do baiano município de Curaçá, debruçado à margem direita do São Francisco.

Pois bem. Salvador Lopes Gonsalves governou Curaçá num período inquestionavelmente difícil: o município saía de uma quadra de administrações conservadoras, porque assim ditavam as circunstâncias da época.

Salvador definia-se como oposição às práticas políticas da época, mas não significava  necessariamente o que hoje se denomina de esquerda.

Salvador é sensato, inteligente, enxerga longe, antever horizontes. Difere da esquerda de hoje, que é tresloucada e não sabe exatamente o que quer.

Em Curaçá, Salvador representava a mudança, a necessidade de mudança.

Salvador mudou? Não sei. Mas chacoalhou a forma de fazer política em Curaçá, atapetou o caminho, indicou direções e acendeu a luz do horizonte político.

Salvador é culto demais politicamente. Também é humilde demais. Entende de seu povo, de suas origens, de Brasil.

Aliás, dentre as muitas observações de meus leitores, faz muito tempo um curaçaense me corrigiu. Dizia ele que Gonçalves se escreve com ç e não com s.

Concordei com o atento e exigente leitor, mas relativamente a Salvador, continuo escrevendo com s.

Hoje, se me perguntarem porquê, insisto que não sei. Presumo que em seu registro de nascimento o tabelião tenha grafado assim. É o bastante.

Mas Salvador é tão importante que um ç ou um s não faz a menor diferença em seu nome, em sua vida e na história de Curaçá.

Importantes são as lições de Luizinho que Salvador aprendeu. Mas quanto a Luizinho, não importa aqui o dizer de sua vida. Só os sábios explicam o seu saber. E eu não sou sábio, nem pretendo sê-lo.

Como dizem os mineiros, Salvador Lopes Gonsalves está onde sempre esteve: à espera de um novo tempo.

E o novo tempo para o sábio e silencioso Salvador é a luta em defesa do município de Curaçá, com mandato ou sem mandato.

Não importam os partidos políticos, os conchavos e, muito menos, as alianças partidárias.

Salvador é sábio, líder respeitável. Sempre.

araujo-costa@uol.com.br.

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