Os “civilizados” debates de nossos parlamentares.

Conhecido o aparte entre dois gigantes da oratória parlamentar: Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional (UDN), jornalista, escritor, deputado, ex-governador do extinto estado da Guanabara (1960-1965) e a deputada Ivete Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), neta de Viriato Vargas, irmão de Getúlio Vargas.

Lacerda e Ivete eram adversários políticos, por razões óbvias: Lacerda foi acusado como principal responsável pela crise política que culminou no suicídio do presidente Vargas em 24/08/1954.

Em acalorado debate na Câmara dos Deputados, Ivete Vargas provocou Lacerda chamando-o de “purgante”.

Carlos Lacerda retrucou em cima da bucha: “e a senhora é o efeito do purgante”.

Ambos se ofenderam, digamos, elegantemente. Não usaram palavrões na tribuna da Câmara.

Nos dias atuais, os debates entre os deputados são constrangedores, principalmente no recinto das comissões, tamanho o despreparo de muitos parlamentares, sem nenhum traquejo social.

Embora despreparados, muitos desses deputados têm grande lastro eleitoral em seus redutos e robustas contas bancárias, que os mantêm no parlamento por diversos mandatos.

Certa vez um deputado dirigiu-se a uma colega chamando-a de “uma vaca”.

Não consigo entender o que o dócil animal que vive no pasto e nos currais tem a ver com discussões de deputados que, de resto, são uns desocupados.

Os xingamentos vão de “ladrão” a “mordedor de fronha”.

O ex-governador cearense Ciro Gomes, paulista de Pindamonhangaba, também ex-parlamentar, costuma utilizar vocabulário proibido para menores de 18 anos.

Há algum tempo, chamou de “baitola” o ex-senador e ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, ícone da oposição à ditadura militar.

Quércia deu de ombros. Ciro não podia ser levado a sério. Não pode ser levado a sério. Nunca pode ser levado a sério.

Baitola, para quem não sabe, é sinônimo de gay em algumas regiões do Nordeste, inclusive no Ceará, estado de Ciro Gomes. No Sudeste raramente o termo é usado.

Quem for esperto nunca vai ser amigo de Ciro Gomes. Quando a amizade acaba, ele coloca todos os defeitos no mundo no ex-amigo e acrescenta adjetivos impublicáveis. Pior: ofende, vilipendia, estraçalha a moral do sujeito.

Assim foi com Lula da Silva de quem foi ministro, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alkmin e outros tantos.

Há algum tempo, chamar uma pessoa de gay era ofensa. Hoje, com o politicamente correto implantado pela esquerda, qualificá-la assim é elogio. Aliás, isto não tem nenhuma importância.

Ninguém tem nada a ver com a orientação sexual de ninguém. Mas nos debates parlamentares isto conta muito, resultado do preconceito e da ignorância.

Não importa se a pessoa é ou não homossexual. Questão de somenos. Mas culturalmente, o Brasil ainda cultiva este resquício de conservadorismo.

Quanto aos debates parlamentares, nossa sociedade ainda precisa evoluir muito no sentido de escolher seus representantes.

Com esses parlamentares que se preocupam mais com as nádegas dos colegas do que com a função legislativa e as necessidades do povo, ficam difíceis a defesa e a representação da sociedade no parlamento.

araujo-costa@uol.com.br

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