Em Chorrochó, comemora-se neste 16 de março o aniversário de Virgílio Ribeiro de Andrade.
A passagem do tempo nem sempre permite que registremos, com clareza, o que a memória vai guardando, retendo, resumindo, conspirando.
Mas por vezes, a passagem do tempo permite lembranças esparsas de algum momento do caminhar, ainda que tropeçando nos buracos da memória e no indizível das recordações.
Talvez o segredo para enfrentar o inóspito do caminho seja flexibilizá-lo com a indulgência necessária à convivência. Embora difícil, esta parece ser uma opção possível.
A comarca de Chorrochó ainda se firmava com o juiz Dr. Olinto Lopes Galvão Filho e seus diligentes e prestativos serventuários, quando conheci Virgílio Ribeiro de Andrade, à época já lotado no Tribunal de Justiça da Bahia, para servir em Chorrochó.
Nascido no vizinho e simpático município de Uauá, filho de Jerônimo Rodrigues de Andrade e Aderlinda Ribeiro de Andrade, Virgílio se mudou para Chorrochó ainda jovem, equilibrando-se entre o nascer de sua vida profissional e a aurora de seu destino.
Oficial do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Protesto de Títulos, Virgílio esgueirava-se, sozinho, para desempenhar a espinhosa função, porque não havia auxiliar na ainda incipiente comarca instalada em outubro de 1967.
No Chorrochó da época não havia forum para centralizar os serviços judiciários, nem os modernismos de hoje, tampouco estrutura para a prestação dos serviços jurisdicionais.
Mais tarde, Virgílio assumiu, cumulativamente, com inegável eficiência, o Cartório Eleitoral, que era, à época, um dos mais visíveis retratos dos interesses políticos regionais.
Todavia, deixo de lado o pendor profissional de Virgílio Ribeiro de Andrade, que é um de seus méritos inegáveis e, despretensiosamente, quero registrar que seu dinamismo o credenciou a liderar, por algum tempo, com idealismo e dedicação, a vida social de Chorrochó.
Virgílio foi um dos fundadores e presidente da Associação Recreativa Amigos dos Menezes (ARAM), que passou a ser conhecida como Clube de Virgílio. Promoveu memoráveis festas, inclusive de formaturas e reuniões da sociedade local e passou a ser referência em Chorrochó.
A família parece ser o esteio sem o qual o homem tende a tornar-se pequeno diante do mundo.
Virgílio seguiu o roteiro da razoabilidade da vida, casou-se com a professora Maria do Socorro Menezes Ribeiro e constituiu um lar de decência e seriedade. Teve um filho, Rogério Luiz Menezes Ribeiro e, hoje, deleita-se com os netos, tesouros que a vida lhe deu para amenizar os dissabores da vida.
Sábio, prestativo, generoso e essencialmente cortês, Virgílio sempre transitou, com impressionante desenvoltura, em todas as camadas sociais do município.
A política sempre presente na vida de Chorrochó, não lhe contaminou com a pequenez das discussões facciosas, de modo que tem vivido até aqui incólume às tempestades partidárias locais.
Chorrochó tem suas sombras, suas calçadas, seus falares próprios. E tem, também, as marcas históricas do viver de cada um.
Neste contexto, Virgílio Ribeiro de Andrade se destacou como profissional exemplar e bom anfitrião da cidade, qualidades um tanto difíceis em qualquer tempo.
Ele soube diversificar sua forma de agir, de pensar e de conviver, de modo que continua sendo uma monumental referência de cidadão de bem.
Tentei resistir, mas meu ego não me deixa silenciar. Virgílio é meu compadre. Ele e sua elegante esposa Socorro batizaram minha primeira filha.
Uma honra que carrego há anos.
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