Osório Villas Boas (1914-1999) foi presidente da Câmara Municipal de Salvador, presidente do Esporte Clube Bahia de 1958 a 1961 e deputado estadual.
Candidato a prefeito de Salvador, Osório Villas Boas valeu-se de um slogan criado pelo publicitário baiano João Agripino da Costa Dória e o usou durante toda a campanha.
João Dória era pai do atual governador de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB). Foi deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC) da Bahia e cassado em 1964 pelos militares.
O slogan era este: “Osório e o Povo contra o Resto”.
Osório Villas Boas perdeu a eleição para Virgildásio Sena, sem o povo. O resto ganhou. Nem o Bahia votou nele.
O governador de São Paulo não dorme pensando na eleição presidencial de 2022 e parece já ter adotado o mesmo slogan que o pai fez na Bahia para Villas Boas. Acha que está com o povo e contra o resto.
Não é bem assim. Em São Paulo, João Dória não é unanimidade como pensa.
O combalido PT, mesmo com o enorme rabo de palha impregnado de corrupção, ainda tem inegável capacidade de movimentar os radicais de esquerda para alcançar os calcanhares do governador.
Ex-prefeito de São Bernardo do Campo e presidente estadual do partido, Luiz Marinho é vigilante. Qualquer tropeço de João Dória os petistas aproveitam para tentar queimar a imagem do governador e possível candidato a presidente em 2022.
Em 2016, Luiz Marinho perdeu a eleição em São Bernardo do Campo para Orlando Morando, do PSDB. Ainda hoje esse sapo cururu arranha a garganta do PT.
Em 2016, no berço político de Lula da Silva, o PT de São Bernardo do Campo sequer conseguiu reeleger a vereador o filho do ex-presidente.
Politicamente escorregadio (por aqui é apelidado de traíra), João Dória tem um histórico de infidelidade.
Na eleição para governador de São Paulo em 2018, Dória aliou-se ao nome de Jair Bolsonaro, beneficiou-se eleitoralmente na esteira do prestígio do hoje presidente da República e agora, de olho na cadeira presidencial, virou-lhe as costas. Pior: fala mal do presidente a todo instante.
Bolsonaro identificou a intenção política de João Dória, que passou de aliado a adversário do presidente de um dia para outro e tenta ser líder dos demais governadores.
O governador petista Rui Costa, da Bahia, não vê João Dória com bons olhos, porque quer assumir a liderança da oposição no Nordeste e, mais do que isto, sonha em ser o candidato do PT a presidente da República em 2022. Se o morubixaba Lula da Silva quiser, evidentemente.
João Dória se acha autossuficiente. Rico, quatrocentão, filho de magnata descendente de donos de engenho de cana-de-açucar, educado em Paris, bem articulado, tem bom relacionamento com a elite financeira empresarial paulista e nacional, que conta muito na safadeza governamental.
O governador de São Paulo sonha em presidir o Brasil. “Só pensa naquilo” e antecipou as discussões eleitorais de 2022.
João Dória cavou uma briga com o presidente Bolsonaro, que tem o pavio curto e não leva desaforo para casa. Expôs-se desnecessariamente e isto lhe pode queimar as pretensões para 2022 ou, no mínimo, deu munição aos adversários.
O governador está aproveitando a crise do coronavírus para tentar sobressair-se eleitoralmente. Um mau-caratismo sem tamanho.
O slogan que o pai João Dória criou na Bahia não parece servir ao filho João Dória, hoje.
Mas o governador de São Paulo acha que está com “o povo e contra o resto”. É cedo, embora tenha seguras chances de destacar-se nacionalmente e até de vencer a eleição presidencial.
Ou transformar-se no papa coronavírus.
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