A Globo está fazendo o que sempre fez

Juracy Magalhães (1905-2001), interventor e ex-governador da Bahia, era ministro da Justiça do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente militar da safra de 1964.

Juracy Magalhães chamou Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, para uma reunião e reclamou que as redações dos órgãos de comunicação da Globo estavam infestadas de jornalistas de esquerda, à época comumente chamados comunistas. Pediu que fossem demitidos.

Roberto Marinho discordou:

– Ministro, dos meus comunistas cuido eu. Eles escrevem o que eu quero”.

Os jornalistas não foram demitidos. Continuaram escrevendo o que Roberto Marinho queria: nada contra a ditadura, tudo a favor da ditadura.

Ainda na ditadura militar – 1984 – surgiu o movimento “Diretas Já” em que os brasileiros exigiam eleições diretas para presidente da República, governadores e todos os cargos eletivos.

O jurista João Leitão de Abreu, ministro-chefe da Casa Civil do general-presidente João Batista Figueiredo, chamou Roberto Marinho e pediu para as Organizações Globo ignorarem o movimento “Diretas Já”, alegando ser prejudicial ao governo.

Roberto Marinho concordou. A TV Globo passou a ignorar as multidões que tomavam conta das ruas exigindo eleições diretas.

A população notou e começou a pedir diariamente “abaixo a Rede Globo”. Deu em nada.

Hoje, alguns setores da sociedade gritam “Globo lixo”. Também dará em nada.

A Globo está fazendo extensos editoriais para os apresentadores leem em seus noticiários, desancando o presidente da República, que resolveu comprar briga com a poderosa, que nunca tinha passado por isto desde o seu nascimento.

Razão da briga: o presidente Bolsonaro sinalizou que pretende tirar a concessão pública da Rede Globo. Difícil. Presidente da República nenhum faz isto, exceto por razões absolutamente amparadas em lei, o que não parece ser o caso.

A Constituição Federal prevê que cabe à União Federal explorar diretamente ou por intermédio de concessão, os serviços de rádio e televisão. Mas nenhum governo explora. Passa para poderosos grupos de comunicação, a exemplo da Globo, Bandeirantes, Record, SBT, et cetera, verdadeiros parasitas que vivem à custa do dinheiro público, principalmente.  

A concessão vale, inicialmente, por 15 anos.

O Poder Executivo deve submeter essa espécie de licença à apreciação do Senado Federal, que pode aprovar, desde que o pedido tenha 3/5 dos votos dos senadores.

Rejeitar a concessão é mais difícil. O pedido deve ser submetido ao Congresso Nacional e a rejeição precisa dos votos de 2/5 dos deputados e senadores.

Então, parece razoável entender que o presidente da República não terá razões para não renovar a concessão da TV Globo, exceto se ela transgrediu algumas regras, o que até aqui não se tem conhecimento.

A concessão da Rede Globo vencerá em outubro de 2020 e abrange transmissoras no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife.  

Assim, será um transtorno para a TV Globo se a concessão pública lhe for tirada, hipótese muito difícil, até por falta de razões jurídicas plausíveis.     

Em resumo, não há novidade: a TV Globo está fazendo o que sempre fez, ou seja, ficar ao lado de todos os governos, desde que eles lhe abarrotem de dinheiro em publicidade, vantagens e prestígio.

O presidente Bolsonaro quer tirar essa mamata da Globo e aí ela ficou contra o governo federal imediatamente, por contrariar seus interesses.

Mas os jornalistas globais continuam escrevendo o que os donos da TV Globo querem. Assim definiu Roberto Marinho, em vida, sejam seus jornalistas esquerdistas ou não.

araujo-costa@uol.com.br    

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