Lá por volta de 2011, um vereador capixaba informou à imprensa que apresentou projeto de lei à Câmara Municipal de Vila Velha, seu município, proibindo que noivas se casem sem calcinha.
O vereador do então Partido Republicano Brasileiro (PRB) explicou que é comum noivas participarem da cerimônia de casamento, sem calcinha, porque isto faz, ainda segundo ele, “segurar o casamento por mais tempo”.
Taí uma novidade que este ignorante escrevinhador não sabia.
Difícil é saber como Sua Excelência conseguiu essa estranha estatística, já que noiva nenhuma sai por aí mostrando as partes de baixo na hora do casamento.
Difícil, mais ainda, é o nobre vereador fazer cumprir a hipotética lei de sua autoria, ou seja, fiscalizar in loco, se as noivas estavam ou estão subindo o altar sem calcinha.
É de supor que ele imagina a noiva adentrando a igreja e sendo abordada, na entrada, por um sisudo fiscal, talão de multa em mãos, exigindo que ela levante o vestido para a competente autoridade constatar se a desavergonhada contraventora está sem calcinha.
Em caso positivo, lavrar-se-ia, ali mesmo, o auto de infração e imposição de multa na presença de convidados, testemunhas e da autoridade religiosa celebrante do matrimônio. Fundamento legal: não usar calcinha, fato constatado pelo diligente agente público.
Não sei se o ilustre vereador é membro de alguma igreja evangélica ou católico, mas desconfio que católico não é.
Não tenho conhecimento de que o homem católico tenha chegado a tanto puritanismo. A bem da verdade, também não conheço caso parecido no meio evangélico.
Mas o vereador argumentou que a igreja é um templo sagrado – e disto ninguém discorda – e não usar calcinha no seu interior é falta de respeito.
Como se vê, Sua Excelência estava preocupado com a moral e os bons costumes dentro da igreja. Privacidade, para o nobre vereador, deve ser um bicho que ele nunca viu , nem sabe o que é.
Em todo caso, acho que isto é coisa de quem quer aparecer.
Há uma teoria muito antiga. Teria sido melhor se o insigne vereador tivesse pendurado uma melancia no pescoço. Dúvida não há de que ele teria sido muito notado, até por quem não usa calcinha.
E eu que pensava, ingenuamente, que vereador é eleito para defender interesses do povo.
Entretanto, com esse edil querendo legislar sobre uso específico de calcinha, tenho que refletir sobre meus conceitos. Por exemplo: que calcinha é um assunto também de interesse de vereador no exercício do mandato.
Consequentemente, se o vereador está lá para defender os interesses da sociedade de seu município, presume-se que noiva usar ou não calcinha também é um baita assunto que preocupa o povo.
“Sem calcinha não dá”, disse o vereador, do alto de sua respeitável autoridade.
Um repórter da Veja perguntou ao vereador se não temia ser ridicularizado. Muito convicto, respondeu: “Não sou um vereador fútil”.
Ah bom!