Sua Excelência João Dória, o deslumbrado

“A demagogia é a erva daninha que compromete o regime democrático” (Daniel Krieger, 1909-1990, UDN/ARENA, Rio Grande do Sul)

A cadeira em que se sentaram os impolutos governadores paulistas Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto (1910-1987) e Jânio da Silva Quadros (1917-1992) está apequenada com a presença do deslumbrado governador João Dória (PSDB).

João Dória é minguado em sua estatura política. Encantado com o poder, que não sabe lidar com ele, o atual governador de São Paulo mistura atribuições oficiais com política partidária e mete os pés pelas mãos, atabalhoadamente.

Em recente entrevista oficial, o governador ameaçou prender, sem nenhuma base legal, as pessoas que, eventualmente, não obedecerem a suas normas restritivas de distanciamento social lançadas para todo o estado de São Paulo. Normas mal planejadas, diga-se de passagem, estrategicamente capengas.

Essas regras estão arruinando a população, mormente as pessoas que precisam trabalhar para seu sustento e de sua família, exatamente porque não foram cuidadosamente estudadas.

A impressão que se tem é que o governador de São Paulo não sabe a diferença, por exemplo, entre uma empresa que tem cinco mil empregados e outra que tem um ou dois colaboradores. Colocou todas no mesmo balaio e dificultou a vida de milhares de pessoas.

Todavia, nem tudo está perdido. Presume-se que nenhuma autoridade policial se dispõe a atender determinação ilegal do governador Dória e deva sair por aí prendendo trabalhadores.

O direito de ir e vir é constitucional e somente pode decidir sobre ele o presidente da República, em duas situações extremas: estado de defesa e estado de sítio, ainda assim consultados o Conselho da República, o Conselho de Defesa Nacional e o Congresso Nacional.  

O Brasil não está em nenhuma dessas situações e, mesmo que estivesse, não seria o fascinado governador Dória a imiscuir-se no dever constitucional do presidente da República.

O governador João Dória vem demonstrando constante despreparo para o elevado cargo de governador dos paulistas, mas escolher errado também é um exercício democrático. A maioria dos eleitores de São Paulo o escolheu.

Outro dia, as imediações da residência particular do governador, em região nobre da capital, estavam atulhadas de viaturas, policiais militares e agentes de trânsito dando cobertura à residência de Sua Excelência e, por extensão, às residências de seus magnatas vizinhos, o que é ilegal.

Avisado de que a prova da ilegalidade estava sendo filmada, o governador mandou retirar os policiais e demais agentes públicos da porta de sua mansão.

O governador de São Paulo tem à sua disposição a Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes para dar-lhe segurança e à sua família, de modo que deslocar policiais das ruas, onde fazem segurança da população, para cuidarem de sua residência particular chega a ser imoral, no mínimo.

Mas o que é imoralidade para um deslumbrado e politiqueiro governador?

Certamente alertado de que falou asneiras, ao ameaçar prender pessoas ilegalmente, Sua Excelência o deslumbrado João Dória, mudou de tom, demagogicamente: disse que sua fala estava sendo utilizada politicamente.

É muito simples não ver sua fala usada politicamente. Basta não falar asneiras. Ele falou em entrevista oficial em palácio e pronto. Não há o que negar, não há o que distorcer.

João Dória gosta de se pavonear. Está aí sua deficiência política.

É soberbo, arrogante, ingênuo, inexperiente.

araujo-costa@uol.com.br

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