Em 16/04/2020 a Prefeitura de Curaçá noticiou o primeiro caso de coronavírus no município e teve o cuidado de esclarecer que a pessoa infectada “não tem histórico de viagem ou contato com pessoas que viajaram”.
O esclarecimento pode parecer irrelevante, mas não é. A transmissão comunitária é um dado fundamental para que as autoridades sanitárias e de saúde possam lastrear estudos e pesquisas com vistas ao combate eficaz ao coronavírus.
Assim como outros municípios brasileiros – ou quase todos – já em março o prefeito Pedro Oliveira (PSC) adotou algumas medidas preventivas de combate à doença, com base em delineamentos recomendados pelas autoridades nacionais de saúde.
As medidas de isolamento social e distanciamento adotadas pelo município de Curaçá não agradam grande parte da população, assim como acontece em todo o Brasil, por uma razão bastante compreensível: as pessoas precisam trabalhar para adquirir o sustento próprio e de suas famílias.
Ninguém resiste a um isolamento sem data definida para terminar, embora esta seja a condição possível no momento para que as autoridades cumpram seu papel diante desse infortúnio.
Embora tenha que me curvar à realidade, também discordo do fechamento de estabelecimentos, sejam eles comerciais ou não, mormente as micro e pequenas empresas que sustentam os empregos e permitem a sobrevivência de muitos.
Estatisticamente são os pequenos empresários que contribuem mais eficazmente para o desenvolvimento do País.
Defender o fechamento rigoroso de atividades econômicas pode ser errado, mas defender o exercício livre dessas atividades nesta quadra do tempo pode parecer egoísmo, falta de solidariedade com os demais que, como todos nós, estão sujeitos à doença.
Talvez seja o caso de equilibrar as decisões, flexibilizar o entendimento, compatibilizá-lo com a realidade social de cada lugar.
Salvo melhor juízo, o prefeito de Curaçá adotou as providências possíveis à semelhança de outros prefeitos, de modo que o surgimento do caso confirmado e de outros possíveis casos de infecção por coronavírus no município escapam a quaisquer medidas de responsabilidade do prefeito.
Assim é no Brasil, assim está sendo no mundo.
Entretanto, vislumbra-se que, embora o momento seja de compreensão e solidariedade social, há pessoas que estão politizando o assunto, partidarizando eventuais omissões do prefeito.
Prefeito nenhum, seja de Curaçá ou de qualquer município, quer a desgraça de sua população. Desgraça maior quando envolve fome, esgarçamento da economia local e, sobretudo, mortes.
Curaçá não tem estrutura para enfrentar um eventual crescimento dos casos de coronavírus porque seguramente depende de hospitais de outros municípios.
Uma estatística assustadora noticiada pelo prefeito de Curaçá atesta que, se o município necessitar, por exemplo, de 340 internações, não pode sequer contar com os demais hospitais do vale do São Francisco, porque em todos eles não há vagas disponíveis em UTIs suficientes para enfrentarem a demanda.
Curaçá, obviamente, não é um caso isolado. Na Bahia e nos demais estados também não há estrutura hospitalar para enfrentar a pandemia, se ela se agravar.
O Brasil mantém o macabro histórico de abandono da área de saúde, em razão da negligência dos governantes em todos os tempos e em todas as esferas de governo.
O fato é que Curaçá – parece – terá que continuar com as medidas adotadas, mesmo que amargas, no sentido de evitar a disseminação da doença.
A agravante é que os profissionais de saúde de Curaçá, que estão na linha de frente para conter o avanço da doença e curar os doentes também estão vulneráveis e fragilizados, tanto emocionalmente quanto em razão da falta de estrutura de trabalho.
As famílias desses profissionais também estão apreensivas. Natural que estejam.
São esses profissionais de saúde que merecem o respeito e a solidariedade da população. Eles estão na linha de frente da batalha e nós somos circunstantes, enquanto deles não precisamos.
Quanto ao prefeito, não é o momento de criticá-lo, mesmo que discordemos de sua atuação.
A política não pode substituir a sensatez.
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