“As pazes entre Lula e a TV Globo começaram no restaurante Dinho´s Place, no Largo do Arouche, em São Paulo. Alberico levou-lhe de presente o livro Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, de Rubem Fonseca”.
Abraçaram-se e Lula logo amenizou o clima e disse: “sem ressentimentos”.
Ali nasceu a ideia do encontro com Roberto Marinho, dono da Globo, que aconteceria dias depois, segundo Gilberto Dimenstein e Josias de Souza, in A História Real, Editora Ática, 1994.
Alberico de Souza Cruz era o todo-poderoso diretor da Central Globo de Jornalismo entre 1990 e 1995.
Naquela ocasião, Lula e a TV Globo andavam se estranhando, porque Lula e os petistas diziam que a Globo elegeu Fernando Collor de Melo à presidência da República nas eleições de 1989, em acirrada disputa com o petista.
Lula e seus seguidores entendiam que a TV Globo editou o último debate na televisão entre Lula e Collor e puxou a sardinha para o lado do alagoano, que ganhou a eleição presidencial.
As pazes de Lula com a Globo duraram alguns anos.
Agora, de novo, Lula vive às turras com a TV Globo, acusando-a de perseguição a ele e ao PT. É uma desinteligência sem nenhuma importância. Depois Lula chama a família Marinho e passa a lamber-lhe as botas, como fez na década de 1990.
Fernando Haddad que se cuide. Em política não há absurdo.
Sérgio Moro saiu do governo Bolsonaro acusando o presidente da República de criminoso e elogiando os dois últimos governos do PT: Lula da Silva e Dona Dilma. Quem diria!
Bateu a porta na cara do patrão Bolsonaro e foi-se embora à semelhança de uma “libélula deslumbrada” (esta expressão foi inventada pelo grande “gramático” cearense Ciro Gomes).
Moro é obcecado para ser ministro do Supremo Tribunal Federal ou presidente da República, o que der certo primeiro.
Saiu do governo dizendo que está pronto para “ajudar o Brasil”, o que para bom entendedor basta. Sonha em ser candidato em 2022.
Inobstante, Moro não sabe exatamente o que quer, mas sabe o que não quer: cair no ostracismo e continuar sendo apedrejado e insultado por desafetos de esquerda, inclusive aquele deputado espevitado do PSOL do Rio de Janeiro, que costuma chamá-lo de nomes impublicáveis.
Como já se sabe que Moro não foi um juiz correto, segundo o vazamento das mensagens por ele trocadas com procuradores da República – e isto é uma questão de caráter – é possível que ele aceite até filiar-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) com o intuito de alcançar o seu intento a qualquer custo.
Se for para o PT conquistar a presidência da República novamente, o morubixaba Lula da Silva e os radicais Gleisi Hoffmann e Paulo Pimenta, dentre outros, até darão beijinhos em Moro.
Afinal, o amor é lindo e Lula de vez em quando assume a fase “Lulinha paz e amor”.
Dizer isto hoje é absurdo? Hoje pode parecer que é.
Entretanto, como Lula gosta de fazer as pazes com seus desafetos – e isto é uma boa qualidade dele – não será estranho se o PT algum dia vier a ter Sérgio Moro em suas fileiras.
O exemplo claro é João Dória, governador de São Paulo.
Dória vomitou ofensas pesadas contra Lula, atribuindo-lhe figuras tipificadas no Código Penal, nos momentos mais difíceis da vida de Lula: o encarceramento.
Agora Lula e João Dória andam-se elogiando mutuamente. É difícil acreditar na aproximação de ambos, mas ela existe.
Diante dos holofotes, Lula sempre desceu a cepa em Fernando Henrique Cardoso. Longe da imprensa, faz cara de arrependido: “É uma merda bater nele. É uma merda bater em alguém que, no fundo, sinto como amigo”.
Post scriptum:
Aos leitores mais conservadores, observo que merda não é considerado palavrão, segundo os dicionários, que vêm se ajustando ao correr do tempo e à evolução da sociedade.
araujo-costa@uol.com.br