Por que não te calas, Bolsonaro?

No regime presidencialista de governo, cabe ao presidente da República nomear livremente seus ministros, assim como outros cargos da administração pública federal.  

As nomeações e exonerações livres são atos conhecidos pela expressão “ad nutum”, em latim, muito usada na burocracia governamental e que consiste em atribuição exclusiva da autoridade administrativa.

Não há dúvida quanto a isto, desde que o ato presidencial observe os ditames constitucionais. A Constituição da República é o parâmetro, o norte.

Em data recente, o presidente Bolsonaro demitiu o Diretor-Geral da Polícia Federal e nomeou o substituto, dentro de suas atribuições previstas na Constituição.

Em princípio, estaria tudo normal, se correta estivesse a essência do ato presidencial. Mas não estava.

Dias antes, o presidente havia sinalizado ao então ministro da Justiça, Sérgio Moro, através de WhatsApp, que sentia-se desconfortável com a atuação do então Diretor-Geral da Polícia Federal e pretendia substituí-lo. Mais do que isto, explicou as razões do descontentamento, que não estavam lá muito de acordo com suas atribuições presidenciais.

Provocado pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), em 29/04/2020 o Supremo Tribunal Federal suspendeu a nomeação e a consequente posse do servidor nomeado pelo presidente Bolsonaro. O STF também explicou as razões: o presidente falou o que não devia ter falado.

Há algumas formas de estancar essas confusões presidenciais: o presidente Bolsonaro deixar de falar todos os dias a jornalistas que se aglomeram em frente ao Palácio da Alvorada; o presidente evitar comunicar-se por WhatsApp; o presidente aprender a diferença entre o que é assunto de governo e assunto de Estado; o presidente atribuir ao porta-voz da República o dever de falar em nome do governo.

Presidente da República não foi eleito para ficar por aí, dizendo o que pensa, sem pensar.

Há um ditado popular segundo o qual quem fala muito dá bom dia a cavalo. Como o presidente Bolsonaro fala demais, vai faltar cavalo para ouvir o bom dia presidencial.

Ingenuidade: o presidente da República do Brasil tratar sobre assuntos de interesse do Estado brasileiro por WhatsApp, ainda mais com um ministro despreparado politicamente como Sérgio Moro.

Por que não te calas, Bolsonaro?

Que República é esta?

araujo-costa@uol.com.br

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