“A política adora a traição, mas despreza o traidor” (Ulisses Guimarães, político paulista e presidente da Constituinte de 1988, 1916-1992)
Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro tem cara de cantor de tango argentino. Mas cantor de tango argentino é honrado, profissionalmente honrado.
Em meio à deficiência de caráter, Sérgio Moro começa a procurar a saída do labirinto em que se meteu inocentemente. Não vai ser fácil. De acusador do presidente da República passou a ser investigado e, quiçá, terminará na condição de réu.
Operadores do Direito que acompanharam o estrelismo do então juiz Sérgio Moro na condução da operação Lava Jato entendem que não há novidade: Sérgio Moro sempre foi ingênuo, arrogante, imbecilizado, embora a grande imprensa tenha lhe dado guarida diariamente nos noticiários durante anos e o elevado ao pedestal de juiz honesto e imparcial.
Sérgio Moro é fruto do idealismo que a imprensa criou e não de sua atuação de magistrado pífio.
O site Intercept Brasil publicou os vazamentos das mensagens do então juiz Sérgio Moro com os procuradores da República – vazamentos que hoje ele tacitamente confirma verdadeiros – escancarando a deformidade profissional do juiz, em desacordo com as leis substantivas e processuais penais. Aí ou acolá começou sua derrocada moral.
Isto por si só basta. O resto é sobejamente conhecido. Sérgio Moro desceu aos escombros do mau-caratismo.
Mesmo assim, Sérgio Moro seguiu em frente, atabalhoadamente, matreiramente, cônscio de que é inteligente. Não é, parece nunca ter sido.
Sérgio Moro abandonou a carreira de magistrado vitalício, seus vencimentos estratosféricos, as mordomias do cargo como juiz federal e escolheu a vida política sem dela conhecer sequer a porta de entrada.
E se não sabe por onde entrou, dificilmente saberá como sair.
Por aí se vê sua fragilidade. Tropeçou entre o certo e o duvidoso. Mais do que isto: demonstrou ingenuidade, insegurança e caráter duvidoso, desprezível.
Pior: Sérgio Moro abandonou a magistratura para optar por aquilo que, em política, chama-se ideologia da traição. Traiu seu mentor, o presidente Bolsonaro, que lhe deu amparo político, cargo respeitável e possibilidade de construir uma biografia séria, perene, exemplar.
Sérgio Moro ainda não explicou – e isto é inexplicável – qual a razão pela qual condicionou sua ida para o Ministério da Justiça de Bolsonaro à uma pensão, em dinheiro, para todo o sempre, em favor de sua família.
Isto lhe colocará definitivamente a pecha de corrupto.
Há outro nome para isto que não seja corrupção?
Não há na legislação do Brasil essa figura jurídica em que um convidado para exercer a função de ministro de Estado exija da República, para assumir o cargo, uma pensão mensal vitalícia, em dinheiro, para sua família.
Sérgio Moro confessou, ingenuamente, que exigiu uma pensão do presidente Bolsonaro. Confessou-se corrupto, inegavelmente corrupto, já que não há previsão legal para essa benesse.
De qualquer forma, ainda que hoje o ex-ministro Sérgio Moro tenha milhões de admiradores, seu destino é a solidão, uma solidão amarga por ter traído o Brasil: ele demonstrou que nunca pensou no Brasil, mas em sua vaidade e seu próprio bolso.
Sérgio Moro poderia ter construído uma biografia respeitável, mas apequenou-se, descambou para a ruína do próprio caráter.
Mas é candidatíssimo a presidente da República.
Pelo seu mau-caratismo vai acabar caindo nos braços do Partidos do Trabalhadores (PT).
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