Rascunhos de Patamuté: Roberto de Zé Lulu

“Há momentos em que o amor se basta a si mesmo, em que é feliz apenas por existir” (Honoré de Balzac (1799-1850)

O tempo e as calçadas de Patamuté guardam registros e lembranças de Roberto Luiz de Souza Alcântara. Tais registros e lembranças não se apagam porque sedimentam a história do lugar, ainda enfeitam o caminhar de uma geração e criam espaço para bons exemplos.

Em Patamuté, a mãe Julieta e o pai José de Souza Alcântara (Zé Lulu) deram-lhe o berço e o caráter. Ensinaram-lhe o caminho do bem, da sobriedade e da generosidade. Roberto – mais tarde, anos à frente, os amigos passaram a lhe chamar Robertão –  era generoso, coração de permanente acolhimento.

Roberto de Zé Lulu – ou de Julieta – como o chamávamos na adolescência, fazia parte de uma geração que enriqueceu Patamuté em sentidos vários, mormente na construção de amizades.   

Estávamos na década de 1960. Situo-me naquela quadra do tempo. Lá a Escola Estadual de Patamuté era nosso esteio, nossa referência, o início de nossos primeiros passos. Vínhamos, quase todos, da década de 1950, Roberto inclusive.

Tempo de atuação fervorosa e responsável de inesquecíveis professoras que engrandeceram Patamuté: Maria Vilani Brandão Leite, Ana Mendes Vital Matos, Maria Mendes Calo (Nazinha), que ainda não tinha Calo no nome, Adalzira de Souza Alcântara (Branca), tia de Roberto, Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes.

Difícil citar nomes e não incorrer na necessidade de policiar-me quanto a equívocos inevitáveis de memória. São muitos, são tantos!

Entretanto, cometo a imprudência de arriscar. Mas como diz frei Bernardo Cansi, “é melhor arriscar-se com inseguranças, do que permanecer seguro, acomodado, com medo de errar”. Os erros são invitáveis quando nos valemos da memória, quase sempre esburacada pela passagem do tempo.

Delineio nomes de alguns dessa geração, que também é a minha. Cito os que me foram mais próximos: Pedro Humberto Alves de Santana, criatura que Zinho e Alice moldaram-no como exemplo de bondade; os irmãos Agamenon Fonseca e José Arnóbio, meus amigos que perduraram; Judivan Menezes, sempre altivo, atencioso; Vandinho de Inês e Hildebrando; Vanízia Maria Mendes, impressionantemente alegre, sorriso largo, prestativa e também amiga até hoje; Ademilton Alves; o próprio Roberto Luiz de Souza Alcântara, Guilhermilton Fonseca, et cetera.

E outros daquele tempo, a barulhenta e irrequieta turma de Lalu e Lídio: Aderlinda, Elizabete, Carmelita, Edinho, Nidinho, Nilzanete, Jackson, para ficar em alguns exemplos. Edelzuíta e Glorinha eram mais ajuizadas, digamos que serviam de parâmetro para os jovens que despontavam para a vida.  

Há alguns dias perdemos Roberto Luiz de Souza Alcântara.

Junho de 2020 foi um mês difícil para todos nós, amedrontados em razão de uma doença que dizima e extirpa entes queridos de nosso convívio. Ficamos nós, ainda, sem nenhuma certeza de que estaremos vivos na semana seguinte.   

O sino da igreja de Santo Antonio de Patamuté certamente iniciou um diálogo com os filhos do lugar, para anunciar a morte de Roberto, notícia dilacerante para familiares e amigos, inclusive os distantes.

A existência de Roberto não foi sombria, não foi cinzenta. Ao contrário, foi-lhe sustentáculo de boas amizades. Como dizia Balzac, o amor se basta a si mesmo. Talvez esta seja a explicação para tantas amizades que ele construiu ao longo da vida.

Roberto deixa saudade. Que Deus o ampare.

araujo-costa@uol.com.br    

Deixe um comentário