A trampolinagem de Sérgio Moro e de outros aventureiros

“A coruja alça seu voo somente com o início do crepúsculo” (Hegel, 1770-1831)

Não são bons os recentes exemplos de juízes federais que abandonaram a magistratura para se dedicar à carreira política: Sérgio Moro, Wilson Witzel e Flávio Dino.   

Neste rol, está o governador do Rio de Janeiro, que somente escapará de um impeachment por milagre, já que a unanimidade dos parlamentares estaduais fluminenses quer vê-lo pelas costas.

É do PT o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que impulsionará o processo de afastamento do governador. Impeachment só é golpe para os petistas, quando se fala de Dilma Rousseff.

Neste caso, são favas contadas que o governador será afastado, exceto se comprar a maioria dos deputados fluminenses, o que não seria nenhuma novidade, dado o histórico imoral dos deputados de lá.

Os deputados estaduais do Rio de Janeiro são senhores absolutos das chamadas “rachadinhas” e outras tantas maracutaias, com algumas honrosas exceções, evidentemente. Sempre há exceções e sempre honrosas. No Rio não se conhecem, mas deve haver.

Vamos aos fatos:

O ex-juiz Sérgio Moro, ingênuo politicamente, abandonou a magistratura federal para se aventurar na expectativa de uma possível indicação a uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Inviabilizada essa hipótese, o inocente ex-juiz Moro abraçou a ideia de candidatar-se a presidente da República em 2022.

O problema de Sérgio Moro é que, tendo em vista a traição escancarada que aprontou contra o presidente da República que o convidou para o cargo de ministro, perdeu a credibilidade dos chamados bolsonaristas e, mais do que isto, não conseguiu angariar, por enquanto, nenhum apoio da esquerda de maioria escandalosamente petista.   

Pior: se confirmadas as informações que esvoaçam nos horizontes políticos, Sérgio Moro está enrolado até o pescoço com situações nebulosas que atraiu para si na condição de juiz federal da Lava Jato em Curitiba e, neste caso, não escapará de um processo que lhe jogará no despenhadeiro moral.

De resto, Sérgio Moro ainda não explicou, nem conseguirá explicar, o inusitado e ilegal pedido que fez ao presidente da República no sentido de conceder-lhe uma pensão vitalícia, como condição para assumir o cargo de ministro do governo.

Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, eleito na esteira de combate à corrupção na sombra de Bolsonaro, está mais enrolado que fundo de cesto. Hipócrita, nada tem de combatente à corrupção, dizem as investigações policiais. Só lhe resta uma saída, confessar sua condição de desmascarado, pegar o chapéu e escafeder-se em direção à inutilidade moral.

Flávio Dino, governador do Maranhão, não pensa noutra coisa a não ser o sonho de gozar da preferência do ex-presidente Lula como candidato à presidência da República.

Entretanto, o morubixaba Lula da Silva já disse que o PT nunca será auxiliar de ninguém, politicamente. E o que Lula diz ninguém da esquerda contesta. A esquerda é pífia, se Lula acabar, ela acaba junto. Não tem sustentáculo próprio.

Flávio Dino, que é comunista do PCdoB, puxadinho do PT, entendeu o recado e já pensa em debandar-se para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), onde se abrigaria no guarda-chuva eleitoral, com vistas ao intuito de galgar a presidência da República. Não dará tempo.

Mas é forçoso reconhecer: entre Sérgio Moro, Wilson Witzel e Flávio Dino, o governador do Maranhão tem melhor estatura moral para habilitar-se à disputa rumo à presidência da República nas eleições de 2022 ou em quaisquer outras. Chega a ser desonesto compará-lo a Sérgio Moro e a Wilson Wiltzel.

Relativamente ao voo da coruja, vamos entendê-lo melhor:

Lembrando belíssimo texto do teólogo cearense Marcos Damásio (Inclinações Filosóficas, 2008), “o crepúsculo é o linear do dia para a coruja. Enquanto cessamos nossas obras e nos recolhemos em nossos lares, a coruja alça voo a trabalho. É a noite que a fascina. Seu pescoço gira 360 graus, dando-lhe uma visão completa, capacitando-a a ver o todo”.

É isto que falta aos políticos medíocres: sabedoria para compreender o todo, elucidar o que não é visível ao censo comum.

Esses medíocres ex-juízes federais que abandonaram a magistratura para escolher a seara política, atabalhoadamente, precisam entender que as aventuras se esvaem tanto mais os aventureiros se quedam às suas vaidades.

Ou, pelo menos, devem observar a sabedoria da coruja, símbolo do avesso às imbecilidades.

araujo-costa@uol.com.br      

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