São Bernardo do Campo, medo e preocupação

Em 23/07/2020, São Bernardo do Campo contabilizava 567 mortos por covid-19 e 15.627 casos confirmados. Em  dois dias morreram 15 pessoas.

Os dados são alarmantes. Os números estão crescendo assustadoramente.

A rede hospitalar do município destinada a pacientes com coronavírus está comprometida: em 23/07/2020, 62% dos leitos de enfermaria estavam ocupados e 43% dos leitos de UTI também estavam, mas os números de infectados continuam aumentando.

Segundo as autoridades municipais, os dados estão compatíveis com a vulnerabilidade do município frente ao coronavírus. Não estão. Não podem estar.

Estariam se não houvesse tantas mortes e tantos infectados. Ou o estado de vulnerabilidade do município, que a Prefeitura alardeia, não está correto ou as estatísticas não estão.

Todavia, é razoável acreditar nas estatísticas que, neste caso, espelham o número de mortos, de infectados, de internados, etc.

O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), é um administrador razoável – e convenhamos, tem sido muito atuante quando se trada de pandemia – mas precisa se desvencilhar do politiqueiro governador João Dória, também do PSDB, por enquanto.

O prefeito é amigo e conselheiro político do governador, mas São Bernardo do Campo não pode embarcar na trampolinagem de João Dória, que não vê outra coisa pela frente a não ser política.

Não é tempo de fazer política partidária e isto é que o governador tem feito diuturnamente.

A forma atabalhoada como o governador de São Paulo determinou a flexibilização das atividades na região metropolitana, inclusive em São Bernardo do Campo, tem muito a ver com o crescimento da doença no município.

Quando os casos de infecção do covid-19 eram poucos, o governador mandou todos ficarem em casa; quando os casos aumentaram, mandou todos irem para as ruas, porque autorizou a volta das atividades econômicas com base em critérios questionáveis. Pior: em horário reduzido, o que resulta em inevitáveis aglomerações.

Não precisa muito esforço de raciocínio para concluir que, por exemplo, cem mil pessoas num mesmo espaço comercial no período de oito horas e essas mesmas cem mil pessoas no mesmo espaço no período de quatro ou seis horas, na segunda hipótese a aglomeração é bem maior e inevitável.   

Talvez tenha havido falta de equilíbrio nas decisões ou, no mínimo, erro de avaliação quanto ao momento certo de flexibilizar.

Diz Sua Excelência João Dória, até de forma exaustiva, que se baseia na ciência para editar seus decretos. Neste caso, é possível que a ciência esteja sendo mal interpretada por ele e seus auxiliares.

Agride a lógica flexibilizar as atividades econômicas sem os cuidados necessários, quando os números de casos estão aumentando em São Paulo.

Mas uma coisa é certa: o governador está vislumbrando somente as urnas de 2022. Nada mais.

Em consequência, quer ficar bem com Deus e todo mundo, ou melhor, com os votos de todo mundo.

O governador queda-se às pressões de grandes grupos econômicos, que ele nega. Quem menos tem voz nessa história é a grande maioria dos pequenos empresários. Eles somente obedecem os desatinos do governador.

Dentre muitos prejuízos, a pandemia também aumentou as desigualdades sociais.

Por exemplo: sob o manto de exercerem atividades essenciais, os grandes supermercados, que vendem de tudo e não somente alimentos, continuaram abertos, tiveram a concorrência diminuída e aumentaram seus lucros, porque os pequenos comerciantes foram proibidos de abrir suas portas.

Resultado: milhares de pequenos empresários, comerciantes e prestadores de serviços, estão fechando ou já fecharam suas portas, porque sequer têm dinheiro para pagar os aluguéis e os salários de seus poucos empregados.  

Os critérios de flexibilização trouxeram também outro componente: a discriminação econômica. Uns podem exercer suas atividades, outros não.

Em resumo: o município de São Bernardo do Campo está assustado, assim como a maioria dos municípios brasileiros.

araujo-costa@uol.com.br

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