Os pré-candidatos de 2020

Os meandros de nossa história política atestam que o Brasil viveu acentuados períodos de oligarquia, populismo e poder militar.

Ainda ressoam em todas as regiões resquícios das oligarquias e do populismo. Há, ainda, muitos admiradores dessas formas de condução político-partidária.

Neste tempo de pandemia, redes sociais e eleições municipais previstas para novembro, parece razoável afirmar que métodos adotados até agora por alguns pré-candidatos em diversos municípios beiram o folclore político. Isto os aproxima muito do populismo, embora de maneira decadente. 

Como se trata de uma quadra do tempo nunca vista, a pandemia está ditando o comportamento dos pretendentes a candidatos a prefeito e vereador e, em consequência, não haverá comícios, reuniões, festas em fazendas, tapinhas nas costas, et cetera, mesmo considerando no horizonte prováveis flexibilizações ou mudanças menos rígidas.

Já se vê pré-candidatos felicitando pelo dia dos avós, dia do motorista, dia do amigo e outros dias tais. São felicitações genéricas que até fazem presumir falta de criatividade. Tudo de olho no voto, evidentemente.

Ocorre que a sociedade como um todo vem evoluindo e, com ela, sem dúvida, o esclarecimento dos eleitores. Mas os pretendentes a candidatos parecem não seguir essa tendência, continuam atrelados às formas de populismo, muitas delas ultrapassadas.

É no mínimo ingenuidade acreditar que os eleitores se decidam a votar num candidato porque ele se dignou a desejar, nas redes sociais, um bom dia para os avós, outro para os motoristas, engraxates, advogados, porteiros, etc.

Essas pessoas merecem reverência todos os dias e não somente em ocasiões eleitorais. 

Em 2020, muitos ingênuos surgirão nesta campanha eleitoral diferente das outras.

Muitos ainda continuam pensando que os eleitores não mudaram e continuam como dantes, vulneráveis às maldades e malícias eleitoreiras dos candidatos. Mudaram, sim. Ou estão mudando.

Há meios de informação de todos os lados e a população está atenta a todos eles.

A propósito, cito um texto do jornalista baiano Sebastião Nery, honra e glória de Jaguaquara:

“Chico Heráclio, o mais famoso coronel do Nordeste, mandava e desmandava em Limoeiro, Pernambuco. Era o senhor da terra, do fogo e do ar. Ou obedecia ou morria. Fazia eleição como um pastor. Punha o rebanho em frente à casa e ia tangendo, um a um, para o curral cívico. Na mão, o envelope cheinho de chapas. Que ninguém via, ninguém abria, ninguém sabia. Intocado e sagrado como uma virgem medieval.

Depois, o rebanho voltava. Um a um. Para comer. Mesa grande e fartura fartíssima. Era o preço do voto. E a festa da vitória. Um dia, um eleitor foi mais afoito:

– Coronel, já cumpri meu dever, já fiz o que o senhor mandou. Levei as chapas, pus tudo lá dentro, direitinho. Só queria perguntar uma coisa: – Em quem foi que votei?

– Você está louco, meu filho? Nunca mais me pergunte uma asneira dessa. O voto é secreto” (Sebastião Nery).

Hoje os eleitores não mais são tangidos como rebanho. Andam com sua consciência, não obstante as redes sociais, que distorcem, mentem, inventam, falseiam, ofendem e até aceitam as ingenuidades.

É tempo de mudar, inclusive as mentalidades e não se muda com o olho no retrovisor do atraso.

araujo-costa@uol.com.br

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