
“Dêem-nos a paz e o que receberão de nós pasmará o mundo” (Amin Gemayel, presidente do Líbano no período de 1982-1988).
O então presidente libanês Amin Gemayel pronunciou esta frase em Genebra, em outubro de 1982, como se estivesse pedindo ao mundo uma oportunidade para acabar com o desassossego de seus patrícios, acomodando-os dignamente no território pátrio.
Não obstante a natureza ordeira de sua gente, o Líbano sempre viveu às voltas com conflitos internos, que colocou os nacionais sob constantes escombros materiais e emocionais, além das ingerências externas que dificultam, em muito, a vida de seu povo.
Entretanto, contraditoriamente, desde a antiguidade, quando os libaneses ainda eram conhecidos pelo nome de “cananeus” e “fenícios”, eles construíram uma civilização hospitaleira e de fácil acesso a outros povos.
O Líbano tem suas bases religiosas fincadas no Islamismo, fundado pelo profeta Mohammad (Maomé), nascido em Makka (Meca), território saudita, no ano de 571 e, mais tarde, em razão de divergências locais, abrigado em Madina (Medina) por um longo período. Faleceu em 632.
A história registra que aos 46 anos de idade, Mohammad noticiou que o anjo Gabriel, em sonho, lhe sugeriu fundar uma nova religião. Surgia o Islamismo: Allah, o Deus único e Mohammad, o profeta.
O profeta contou, no início, com a concordância dos califas Omar e Abud Baquer (Abu Bakker), que contribuíram para a formação dos pilares do Islamismo, hoje a terceira religião em número de adeptos em todo o mundo. Seu livro sagrado é o Alcorão, que prediz: a lei suprema é obedecer a vontade de Deus.
Os pilares do Islam são, até hoje: cinco curtas orações diárias e, pelo menos, para quem pode, uma visita anual a Meca, onde está a kaaba, a pedra de basalto negro, símbolo do Islam.
A cultura libanesa é vasta e perene. Por exemplo, rios como Orontes e Litani, ambos nascidos na região do Beqaa, que desembocam no Mediterrâneo e contribuem para a sustentação dos valores de seu povo e constituem patrimônio que o país guarda em sua história.
É na região do rio Litani que se situa o histórico castelo de Beaufort, um dos marcos da civilização libanesa da antiguidade.
O Beqaa é um vale de aproximadamente 120 quilômetros de extensão e onde se dava, com abundância, o cultivo de vinhas, cereais, flores e produtos granjeiros.
O símbolo do Líbano é o cedro, que compõe a bandeira do país. Há uma lenda que o sabor amargo do cedro repele os vermes e, portanto, deixam os libaneses incorruptíveis.
Além da capital Beirute, às margens do Mediterrâneo, há cidades importantes e históricas a exemplo de Sidon, Zahlé, Tiro e Biblos, que se situam à sombra do Monte Líbano e retratam de forma perene a cultura libanesa.
O povo do Líbano divide-se entre muçulmanos sunitas e xiitas (60%, ou próximo disto) e cristãos, mas é um país politicamente complexo, com diversos grupos religiosos organizados, o que possibilita o surgimento de conflitos, como a guerra civil que o destruiu entre 1975 a 1990.
Com razoável influência francesa, o Líbano é fronteiriço com Israel e Síria e segue resistindo em defesa da proteção de sua cultura e de sua gente barbaramente atingida em razão de décadas de incompreensão.
O Líbano tem forte ligação com o Brasil. Há registro de que a imigração começou em 1870. São 10 milhões de libaneses e descendentes deles aproximadamente que vivem por aqui, mais que a população de lá que está por volta de 6,9 milhões.
Beirute está passando por sérias dificuldades. Quase metade da capital vem sofrendo com recentes explosões ainda não esclarecidas.
O povo do Líbano está sofrendo.
Que Deus tenha misericórdia.
Post scriptum:
A tradição islâmica recomenda que qualquer texto seja precedido da expressão “Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso” e toda vez que o nome do profeta Mohammad é citado deve ser acrescentada a expressão “A paz esteja com ele”.
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