Curaçá: respeito ao direito de divergir.

Stoessel Dourado, nascido em Paripiranga, mas fazendeiro no município de Irecê, foi deputado estadual pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional) da Bahia, reeleito nas eleições de 1974 com 15.113 votos.

Tinha como colegas na Assembleia Legislativa baiana, dentre outros: Roque Aras, eleito com 12.476 votos, nascido em Monte Santo e pai de Augusto Aras, atual Procurador-Geral da República; e Elquisson Soares, nascido em Anagé, advogado e produtor de café em Vitória da Conquista, ambos do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), também eleito em 1974 com 14.114 votos, a maior votação da oposição para a Assembleia Legislativa.

A bancada da oposição era pequena – nove deputados – mas buliçosa e barulhenta e tinha, além de Roque Aras e Elquisson Soares, Archimedes Pedreira Franco, Clodoaldo Campos, Guttemberg Amazonas, etc.

Conhecido por seus virulentos discursos contra o regime militar, Elquisson Soares ocupava a tribuna, quando foi aparteado pelo arenista Stoessel Dourado, advogado e médico veterinário, defensor do regime militar.

– Concedo o aparte, com prazer, mas quero saber quem está aparteando, se o advogado ou o veterinário – provocou Elquissson Soares.

Stoessel Dourado foi rápido:

– Para falar com Vossa Excelência só pode ser o veterinário.

Como dizia o prefeito Odorico Paraguaçu, de Sucupira, “não obstantemente esses entretantos”, as pré-campanhas eleitorais nos municípios, quaisquer quer sejam eles, precisam ajustar-se à civilidade e abandonar a mesmice das acusações tão comuns em pleitos anteriores.

Já se veem em Curaçá, por exemplo, pessoas desengavetando acusações contra adversários, o que, de certa forma, apequena a maneira de fazer política.

Parece razoável entender – e isto chega a ser uma obviedade – que desenterrar picuinhas de eleições anteriores, apenas com o intuito de arranhar candidaturas de adversários, não leva a nada, não afigura-se nenhum mérito, tampouco significa saber fazer política.

A pobreza de ideias e a ausência de propostas estão dando lugar ao vazio e à ponte em direção a lugar nenhum.

Trazer ao momento político atual insinuações de que o prefeito A, B ou C prestou ou deixou de prestar diminui os espaços para inserir novas ideias que possam esclarecer o eleitor com vistas ao melhor caminho em direção às urnas.

 O direito de apoiar uma candidatura ou afastar-se dela em benefício de outra não quer significar conduta censurável. É tão-somente exercício do direito democrático de divergir, de contestar, de mudar de rumo.

Uma coisa é divergir; outra coisa é trair politicamente, abandonar acordos, romper estratégias engendradas. São situações diferentes.

O discurso político pressupõe equilíbrio, até mesmo quando feito com ironia, como o exemplo acima.

Em Curaçá, a campanha eleitoral majoritária desenha-se sem nenhuma novidade e, parece, descambando para o desrespeito ao direito de divergir.

Isto não é bom para a seara democrática. Uma das belezas da política é a convivência sadia com os contrários, civilizadamente.

A robustez da coerência política é não abandonar as ideias, perseguir os sonhos. E só.

Mudar de rumo não significa mudar o caráter.

araujo-costa@uol.com.br

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