“Os vices são como os ciprestes: só crescem à beira dos túmulos” (Sebastião Nery)
Maldade folclórica do experimentado jornalista Sebastião Nery, baiano de Jaguaquara.
Os vices também crescem noutras situações e não somente quando os titulares partem para o desconhecido mundo dos ausentes.
Todavia, a frase tem um quê de realidade. Há vices que se acomodam sob as asas frias da expectativa de um dia assumir a titularidade e se recolhem ao quase anonimato político à espera de eventual infortúnio.
Ficam calados e ninguém sabe o que calado quer.
Outros vices rompem com os companheiros de chapa e se aventuram em voos arriscados. Em alguns casos, as asas não permitem ir muito longe e acabam despencando no terreno do fracasso político.
Entretanto, em época de eleições, quaisquer que sejam elas, os candidatos a vice se destacam, porque ajudam a estruturar o arcabouço político-jurídico das candidaturas dos titulares. Nessa fase, o amor é lindo.
Nas conjecturas para construção das chapas, somam-se interesses – mais pessoais do que políticos – conchavos e outras coisas mais. A rapadura dos cofres públicos costuma ser bastante doce e “o povo é apenas um detalhe”, como dizia o personagem humorístico.
Por exemplo, alguns candidatos a vice-prefeito têm lastro eleitoral, porque advêm de outras experiências, participaram de campanhas eleitorais anteriores,mesmo que não tenham sido exitosas. Esse patrimônio político é valioso, todos têm interesse.
Em Curaçá, as convenções partidárias homologaram bons nomes na composição das chapas dos três candidatos a prefeito em 2020. O delineamento parece definido, se não houver nenhuma mudança quanto ao deferimento das candidaturas pela Justiça Eleitoral.
Luiz Péricles Bahia de Aquino dignou-se a ser candidato a vice na chapa de Flamber Feitosa (PSD).
Péricles é um nome respeitável. Vem de outras persistentes batalhas democráticas. Salvo engano, já foi vice-prefeito e até se candidatou a prefeito, tendo como companheiro de chapa o ínclito Omar Dias Torres (Babá), honra e glória de Curaçá.
Já se vão décadas, por aí. Conheci Luiz Péricles no Mercado Municipal de Patamuté, em época de campanha eleitoral. Jovem ainda, impressionou-me pela decência e postura de homem público.
Ainda mantenho boas impressões desse agrônomo graduado pela tradicional Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF), curaçaense de boa cepa.
Luiz Péricles parece carregar vistosos sustentáculos de nomes tradicionais de Curaçá, a exemplo de Euvaldo Torres de Aquino e Gilberto da Silveira Bahia, nomes que a memória compatibiliza com a seriedade e irrepreensibilidade de caráter.
O candidato Murilo Bonfim (PT) compôs sua chapa de vice-prefeito com o jovem advogado Caíque Brandão, descendente de tradicional família de Patamuté e bem situado no contexto político do município.
As famílias Matos e Brandão são referências quando se fala em história de Patamuté e em raízes socioculturais de Curaçá.
O prefeito Pedro Oliveira (PSC), candidato a reeleição, alinhou-se ao ex-secretário municipal Adriano Araújo, também jovem, bem articulado e, parece, atento aos desafios do município.
Os jovens que adentram o caminho da política trazem esperança e um quê de rebeldia que podem resultar em mudanças alvissareiras em benefício de nosso município tão apático e acostumado à mesmice e à ausência de ideias e de políticas públicas.
Em Curaçá, guardo saudosas lembranças de Ismael Cariri dos Santos, de Riacho Seco, que foi vereador por alguns mandatos e vice-prefeito do município e com quem convivi em bons tempos de sadias amizades.
Sábio e impressionantemente humilde, Ismael disse-me, mais de uma vez, que o cargo de prefeito é muito espinhoso, mas a missão do homem público é enfrentar com altivez quando chamado a fazê-lo.
Entendo que a maior qualidade do vice é a humildade. Humildade para sustentar a expectativa de um dia vir a ser titular. Ou não.
Boa sorte a todos. A luta democrática vale a pena.
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