Em Chorrochó, o adeus de José Evaldo de Menezes

A maior homenagem que se pode prestar a José Evaldo de Menezes é orar por ele.

O momento é difícil para nós, que ainda ficamos, mas para ele, que se foi, é o amanhecer de uma nova vida.

Meu último encontro com Evaldo deu-se há aproximados doze anos, em Chorrochó.

Entretanto, como se uma despedida, mês passado, 27 de agosto último, Evaldo telefonou, o que não fazia há anos.

Voz inconfundível, argumentos prontos, a preocupação constante com as coisas de Chorrochó, surpreendeu-me duplamente: pelo inesperado do contato, que me envaideceu; e pela ênfase com que protestou contra a derrubada de umbuzeiros lá para as bandas de Várzea da Ema, parece que por ação desastrada de uma empresa que trabalha na região.

Conversamos e sorrimos. Irônico, sempre espirituoso e inteligente, Evaldo irradiava alegria contagiante em qualquer tempo e circunstância, mesmo nos momentos de adversidade.

Às vezes é preciso que falemos algumas coisas, enquanto é tempo. É preciso porque, em certas ocasiões, surgem as oportunidades para isto. Se as oportunidades se vão, vão-se também os ímpetos que nos movem dizê-las.

No próximo mês de outubro, dar-se-á o aniversário natalício de Evaldo. Hábil para enfrentar as derrapagens da vida, desta vez ele não pôde esperar a data.

Evaldo atingiu, em sua trajetória de vida, muitos degraus na estima de seus amigos, porque trouxe do berço várias qualidades, que todos admiramos: caráter irrepreensível, generosidade, persistência na defesa dos mais humildes e, sobretudo, uma tenacidade ímpar quando pretendia justificar seus pontos de vista.

O mais admirável é que seus argumentos tinham o condão de convencer, amparar, completar e ensinar, sem a pretensão de colocar-se acima de ninguém.

Esta é uma crônica de saudade.

Já se vão por aí algumas décadas. Convivi com este conspícuo Evaldo apenas alguns anos, porque o destino assim o quis. E teria convivido mais, prazerosamente, se as exigências do tempo não me tivessem impedido. Éramos um tanto jovens.

Ele por volta de trinta anos, já líder, inquieto com as condições sociais de sua gente, sempre atencioso, rodeado de amigos e admiradores.

Eu insignificante, sem importância, como ainda hoje, ignorante diante do mundo, tão somente um espectador das circunstâncias. Querendo ser gente grande, o que nunca consegui.

Evaldo era o espelho de quem queria progredir na vida. Sensato, atencioso, humilde.

Naquele tempo, Chorrochó era uma sociedade em construção, impregnada de sonhos e perspectivas. Município novo, dominavam em todos nós o otimismo, a esperança, a vontade de antever novos horizontes.

Vi Evaldo, muitas vezes, discutindo situações de cunho social e apontando soluções para os desamparados, para os pobres, para os tristes. Melhor, vi-o resolvendo tais situações, sempre em benefício dos desvalidos.

Hoje Chorrochó mudou, mudaram-se os valores. Difícil não se curvar diante das imposições do tempo. Evaldo fez isto muito bem, com maestria.

Evaldo era uma daquelas pessoas que a gente deve orgulhar-se de ter conhecido. E deve lamentar por não ter privado, diuturnamente, de sua amizade. Ele acrescentava, fazia pensar, dava lições de humildade e de decência.

Líder autêntico, presente, esplendidamente justo. Amigo, sabia balizar, como poucos, a convivência em sociedade. E se portava muito bem, assim, sabiamente.

Houve um tempo em que nada acontecia politicamente em Chorrochó sem que Evaldo fosse consultado. Nasceu político, vivia a política ao seu estilo único, admirável, contemporizador.

Evaldo soube construir seu mundo de aconchego suficiente para abrigá-lo, incluída aí a família nobre: a mulher Elza Menezes e os filhos Larissa e Evaldo Segundo.

Contudo, o que preciso dizer hoje, além disto, é que José Evaldo de Menezes era um sujeito digno, honrado, correto, insigne, notável, desprendido.

A existência dos mestres deve ser sempre lembrada. Evaldo era um mestre das coisas da vida.

Confesso-me dilacerado, diminuído, insignificante diante dessa cruel realidade da morte.

Não foi possível, antes, abraçá-lo.

Não é impossível, hoje, dar o adeus de perto, para sempre.

Pêsames a todos da família.

Que Jesus Cristo, redentor do mundo, indique a Evaldo o caminho para a eternidade e que Deus o ampare.

araujo-costa@uol.com.br

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