Soldado Prisco (PSC), deputado estadual da Bahia, baiano de Catu, ficou indignado com uma nota do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) de Curaçá.
O deputado manifestou intenção de processar o partido, o seu presidente e até estudar a possibilidade de processar toda a diretoria da agremiação.
Um exagero, convenhamos.
A nota do PT em questão hipoteca apoio a uma filiada do partido que se envolveu num quiproquó e acabou ofendendo um policial militar que, parece, já contratou advogado para patrocinar o caso.
O deputado Prisco é conhecido defensor da categoria. Excede-se, quase sempre, mas é persistente em suas barulhentas ações políticas e sindicais.
Contratar advogado não será problema para o PT. Dinheiro não lhe falta, nunca lhe faltou e, em quadro assim, é mais do que evidente que o partido não vai deixar o diretório de Curaçá a ver navios.
O PT de Curaçá é importante. Os dirigentes do PT de Curaçá são importantes para o partido e para o exercício da democracia.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o PT “tem dinheiro para disputar eleições até 2038”. Logo, dinheiro não é problema para o partido.
Gilmar Mendes tem uma estranha relação com o PT: quando suas decisões são favoráveis aos petistas, o PT o afaga; quando são contrárias, o PT o apedreja. Mas esta relação de tapas e beijos é outra história.
Quanto à nota do PT de Curaçá, parece que o excesso de formalismo não lhe fez bem.
A nota oficial não seria necessária. Não foi estruturada politicamente, não foi pensada estrategicamente, mas o que importa aqui é que a direção municipal do partido entendeu correta, oportuna, necessária.
O PT, enquanto âmago da esquerda do Brasil, tem sido responsável por alimentar excessos, dentre eles o combate exacerbado, quase sempre equivocado, a tudo que não se coaduna com o pensamento do partido e, menos ainda, com os seus interesses.
O PT agigantou o “politicamente correto” e não atentou para a tênue diferença, para alguns, entre a liberdade de expressão e o caminho em direção à ofensa. Está pagando por esses excessos que ajudou a criar, embora este não seja o caso de Curaçá.
Por outro lado, a acusada de suposto racismo, conhecidíssima em Curaçá, dispensa quaisquer interpretações que a desabone, de modo que uma nota partidária nada lhe acrescenta.
Libânia Torres provém de família exemplar. Seus ascendentes têm história de vida e decência e, por certo, num momento de fragilidade, acabou cometendo esse disparate.
Difícil transformar em dolo esse fato isolado na conduta de Libânia Torres. Parece mais fácil entender seu momento involuntário de insensatez.
Cabe às autoridades apurar, se o caso for à frente, se houve a intenção deliberada de ofender o policial de nossa gloriosa Polícia Militar. Nada que um termo de ajuste de conduta não possa resolver, tendo em vista o histórico de vida e correção da ilustre curaçaense e a hombridade, dignidade e honradez do policial ofendido.
O histórico de vida e de atuação política de Libânia Torres não ampara essa conduta, de resto incompatível com seu costumeiro proceder. Então, quiçá seja a hora de chamar um senhor equilibrado de nome bom senso para construir o entendimento entre os envolvidos.
O excesso de formalismo do PT de Curaçá foi além. O apoio à filiada e dedicada militante poderia ter acontecido sem formalidade, até mesmo através de uma visita de seus dirigentes à distinta curaçaense.
Parece razoável entender que a intenção do PT foi angariar visibilidade neste ano de eleição, mas o resultado da encrenca nas urnas pode lhe ser prejudicial e produza reflexos indesejáveis para o partido.
Entretanto, Júlio Cézar Lopes, presidente do PT de Curaçá, em nota circunstanciada, pediu desculpas e ponderou que não teve a “intenção de legitimar qualquer agressão à corporação da Polícia Militar ou a qualquer policial especificamente”.
O equívoco maior vem do peso oficial da nota, emitida pelo Partido dos Trabalhadores e contrária ao que o partido apregoa.
De outro turno, o PT estadual, dizendo-se “norteado pelos princípios de justiça e igualdade”, também distribuiu nota, “em nome de todos os seus militantes” e pediu desculpas “à vítima da injúria racista e ao conjunto do movimento negro”.
De qualquer forma, a ingenuidade do teor da nota petista, agora esclarecida, não exclui o direito do policial militar de lutar, judicialmente, em defesa de sua honra que entendeu arranhada.
É o direito. É o exercício do direito.
São as regas da democracia.
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