Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, cientista político, renomado no mundo inteiro, professor das universidades de Paris, Stanford e Cambridge, foi escolhido candidato do novel PSDB a presidente da República.
O agitado sociólogo foi aposentado compulsoriamente em 1969 das funções que exercia na Universidade de São Paulo (USP) pela rígida ditadura militar e se exilou para evitar transtornos com a chamada “Revolução de 1964”.
Fernando Henrique nunca tinha andado no interior do Nordeste. Entendia tudo de teoria das cátedras e bancos universitários e nada da realidade nordestina.
O correligionário e à época senador Guilherme Palmeira, de Alagoas, começou uma tarefa difícil: aproximar Fernando Henrique dos rincões nordestinos e dos costumes de sua gente.
– Você precisa comer buchada de bode, faz parte do ritual da campanha – disse Guilherme Palmeira.
Fernando Henrique foi claro, do alto de seu elitismo paulista e europeu:
– Você tá ficando maluco. Não como uma coisa dessas nem morto.
Comeu. Um dia, à noite, em campanha no distrito de Pau Ferro, município de Petrolina, sertão do São Francisco, Fernando Henrique comeu buchada de bode. Mais do que isto, elogiou a iguaria:
– Estava ótima.
A mentira é democrática. Todo político mente. É melhor voto na urna do que a verdade de cada candidato.
O que mais se vê em campanha eleitoral é mentira. Ela democratiza o debate, as estratégias eleitorais, a igualdade entre os candidatos.
Todos são iguais perante a lei e a mentira. Democracia é isto, hipocrisia inclusive.
O eleitor adora o “me engana que eu gosto”. Faz parte de nossa cultura, desde os tempos dos currais eleitorais coronelistas advindos do Império.
No município baiano de Curaçá, sertão sanfranciscano, por exemplo, o que mais se vê nas redes sociais é superposição de imagens, com o intuito de parecer multidões em carreatas e demais eventos eleitorais.
Nas convenções partidárias deu-se o mesmo. Na convenção do prefeito e candidato à reeleição, no Colégio Municipal Professor Ivo Braga, a multidão que a assessoria do prefeito dizia que estava lá não cabia na arena Fonte Nova.
Assessores e admiradores dos três candidatos a prefeito do município postam imagens para mostrar que o candidato de um determinado grupo arregimenta mais pessoas do que os outros candidatos, mesmo em tempo de pandemia, que ninguém obedece mais às determinações da Prefeitura, quiçá nem mesmo os seguidores do prefeito.
Tudo lorota. Informações de pessoas razoavelmente isentas, que acompanham de perto a campanha eleitoral de Curaçá, atestam a presença de eleitores de outros municípios, que engrossam eventos e carreatas, com a conivência – e até a convite – das assessorias dos candidatos, para demonstrarem força política relativamente aos outros concorrentes.
Inocência. Ingenuidade. Isto não dá votos.
Em 10 de outubro corrente, no distrito de Patamuté, houve um evento político patrocinado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), salvo engano.
Este blog ficou permanentemente em contato com pessoas de lá. Para os organizadores foi um sucesso. Deixa pra lá.
Todavia, tudo isto não é pecado de Curaçá. Acontece nos demais municípios da Bahia e do Brasil.
Os candidatos enganam-se a si mesmos.
Vamos esperar a voz das urnas.
araujo-costa@uol.com.br