“Um país se faz com homens e livros” (Monteiro Lobato, 1882-1948)
O Brasil tem livros, mas está precisando de homens. Homens dignos, sérios, corretos, impolutos, que ostentem vergonha na cara. Estão em falta.
Os noticiários diários, quando não parecem programas de humor, fazem corar de vergonha.
Em data recente, um senador da República enfiou maços de dinheiro no traseiro e virou piada nacional.
Noutro dia, o ministro do Supremo Tribunal Federal, que reclama desses nossos “tempos estranhos”, mandou soltar conhecido e perigosíssimo traficante, segundo ele, de acordo com a lei. Isto mesmo, de acordo com a lei.
O traficante escafedeu-se, o que fez muito bem. Estava com o Alvará de Soltura em punho expedido pelo Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte da Justiça do Brasil. Onde errou?
O Supremo Tribunal tentou engabelar a sociedade e convocou uma inútil sessão às pressas, para justificar o erro monumental. O ministro que soltou o traficante ficou com cara de paisagem.
O Supremo Tribunal Federal se reuniu para decidir o óbvio, o que todo mundo sabe, até o mais leigo dos leigos: o traficante não podia ter sido solto. Mas foi, “de acordo com a lei”, disse o ministro.
Não precisa ser magistrado para saber que um sujeito de alta periculosidade, que tem duas condenações em segunda instância, que somam mais de 20 anos de reclusão e prisão preventiva decretada, não podia simplesmente embarcar num jatinho e sair por aí, por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Qualquer primeiranista de Direito sabe disto.
De outra feita, um ministro do Superior Tribunal de Justiça compareceu à sessão de julgamento, sem calças, com a toga sobre os ombros. Pergunto: onde estaria o decoro?
Em todo território nacional, juízes e desembargadores vendem sentenças por centenas de milhares de reais e robustecem suas intocáveis contas bancárias, de resto amparadas por sigilo bancário.
Os tribunais dizem que não sabem. O Conselho Nacional de Justiça também não sabe. Ninguém sabe, ninguém vê.
Como dizem lá, nas montanhas de Minas, “todo mundo diz que é honesto, mas roubaram o chapéu de “seo” Orozimbo”.
E por aí vai este Brasil de privilégios e falcatruas, para ficar nesses poucos exemplos.
Noutro cenário – e apesar da pandemia do coronavírus – políticos se engalfinham em busca de poder e de dinheiro, quase sempre ilícito. Ou sempre ilícito.
Que se danem doentes, pobres, desvalidos, desempregados e famintos de toda ordem.
Outros políticos se ocupam de furtar dinheiro público destinado a estados e municípios para as autoridades locais cuidarem dos doentes do coronavírus.
Esses políticos inescrupulosos “furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse”, como dizia o padre Antonio Vieira.
O mais recente espetáculo é sorumbático: o presidente da República puxa a corda e instiga uma discussão estéril com o governador de São Paulo, que se pavoneia ridiculamente a mais não poder.
O governador de São Paulo se esforça para aparecer, ter visibilidade diante dos brasileiros, com o olho nas eleições presidenciais de 2022.
Diante disto tudo, a sociedade está estupefata, mas inerte. Não protesta, não grita, não exige compostura dessas indecentes autoridades. Parece que já está acostumada.
O Brasil está passando por um vazio de ideias.
A frase do crítico Agripino Grieco cai com uma luva no governador-pavão de São Paulo:
“Passou a vida correndo atrás de uma ideia, mas não conseguiu alcançá-la”.
Noutras palavras, o governador é vazio, arrogante, insolente, presunçoso e medíocre.
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