ACM e as empreiteiras

O médico Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) foi governador da Bahia por três mandatos e o político que deteve mais poder no estado durante décadas.

ACM foi deputado estadual, deputado federal, prefeito biônico de Salvador, ministro das Comunicações, Senador da República, et cetera, principalmente et cetera. O que mais ACM exerceu na vida foi et cetera, em todos os governos, de 1964 até Fernando Henrique Cardoso.

ACM mandou construir a Linha Verde, bela estrada turística que começa nos domínios de Lauro de Freitas e vai até a divisa com Sergipe, também conhecida como Estrada do Coco, contemplando praias e outras belezas naturais.

A Construtora Norberto Odebrecht ganhou a concorrência e, em consequência, se encarregou da obra, mas subcontratou a OAS para executar o serviço ou parte dele.

A OAS pertencia ao genro de ACM, César Araújo Mata Pires.

Os adversários políticos de ACM diziam que OAS significava “Obrigado, Amigo Sogro”, numa maldosa insinuação de que o governador protegia a construtora do genro. ACM negava: “a OAS já existia antes de ele casar com a minha filha”. Dizia mais: “quem quiser fazer governo sério tem que tomar lição na Bahia”.

No decorrer da construção da estrada, a Odebrecht procurou ACM, alegando necessidade de um aditamento no valor de vinte milhões de dólares, porque, segundo a construtora, a obra estava dando prejuízo, inclusive para a OAS.

ACM recusou: “Quero que a estrada seja construída pelo valor acertado na licitação”. E não aditou.

O mesmo aconteceu com a construção da Adutora do Feijão, na região de Irecê. ACM não fez aditamento dos contratos, mesmo instado a fazê-lo e, mais tarde, já noutro governo, houve construtora com dificuldades de cumprir o contrato.

Norberto Odebrecht, fundador da construtora e pai de Emílio (que viria a ser amigo de Lula da Silva) e avô do príncipe Marcelo, era amigo de ACM e ficou melindrado com a recusa do aditamento. Ameaçou transferir a sede da construtora para o Rio de Janeiro. ACM deu de ombros e a Odebrecht acabou mudando, paulatinamente, por conta desse prejuízo alegado.

Depois, a OAS caiu definitivamente nas mãos de Léo Pinheiro, que presenteou Lula da Silva com o tríplex do Guarujá e a Odebrecht passou a ser administrada por Marcelo, que reformou o sítio de Atibaia para Lula, em parceria com a OAS, segundo o Poder Judiciário e por aí vai.

Não custa lembrar que Lula da Silva nega de pés juntos ter recebido esses e outros mimos das construtoras, de modo que toda riqueza que ele tem hoje presume-se que é fruto do seu árduo, diuturno e suado trabalho em benefício das “classes trabalhadoras”.

Léo Pinheiro e Marcelo Odebrecht se enrolaram com a chamada operação Lava Jato, porque fizeram nada mais, nada menos, do que suas construtoras costumavam fazer: além de aditamentos em contratos, para ampararem as propinas, valiam-se do uso delas para tapetar o caminho em direção a agentes públicos corruptos.

O uso do “cachimbo deixa a boca torta”, diz o ditado. OAS e Odebrecht confirmaram isto. Deu no que deu.

Agora, João Santana, baiano de Tucano, marqueteiro de Lula da Silva e de Dona Dilma, quer reeditar o lulopetismo e até sugeriu uma chapa Ciro Gomes-Lula da Silva, com empreiteiras e tudo que tem direito.

Nas calçadas de São Bernardo do Campo já há quem pergunte: meu Deus, vai começar tudo de novo?

araujo-costa@uol.com.br

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