“Só um poeta sabe gritar na escuridão” (Joseph Brodsky, poeta russo, 1940-1996)
Hoje falo de meus queridos municípios do sertão da Bahia, simpáticos vizinhos debruçados à margem direita do São Francisco, orgulhosamente caatingueiros e impressionantemente belos.
O altaneiro Curaçá, meu berço e raiz e o não menos altaneiro Chorrochó, que me considero filho adotivo de lá.
Falo da esperança que o povo desses municípios espera florir das urnas de 15 de novembro vindouro.
Falo da costumeira apatia de nossos prefeitos, geralmente sem programas de governo, sem ideias, sem respeito às populações.
Falo de nossas incertezas, falo do olhar esperançoso de nossa gente sofrida, sempre em busca de novos horizontes, que nunca alcança.
Falo do constrangedor estado de abandono em que se encontram nossas populações rurais, que até, em algumas ocasiões, dependem das bênçãos dos prefeitos para dispor do mínimo necessário como, por exemplo, água em suas casas.
Mas como se diz lá nas montanhas de Minas, “vamos puxar essa conversa para mais perto”.
Em Curaçá, concorrem às eleições majoritárias três candidatos, cada um a seu modo, prometendo até o que não pode dar e, como de costume, os compromissos que alardeiam se transformam em promessas entre o último dia de campanha e a abertura das urnas.
O prefeito Pedro Oliveira (PSC), que não quer largar a doce rapadura curaçaense, é um tanto experiente, em razão do exercício do cargo que vem ocupando, mas carrega contra si uma série de acusações formuladas por seus adversários, o que não é nenhuma novidade em política.
Dentre outras, a função da oposição é cutucar e fiscalizar mesmo e com isto tentar aperfeiçoar os atos do gestor público, dentro da razoabilidade que se espera de quem se dispõe a discordar.
O que este escrevinhador tem dificuldade de entender, talvez por falta de suficiente inteligência, resume-se no seguinte: por que os denunciantes que hoje aparecem nas redes sociais fazendo cabeludas denúncias contra o chefe do Poder Executivo não o fizeram antes da campanha eleitoral ou o fizeram timidamente?
Deixa pra lá. Talvez estivessem aguardando o frigir dos ovos das composições político-partidárias para saber em que grupo ou lado seria conveniente ficar.
Entretanto, o que importa é que o prefeito está apto para disputar, segundo a legislação eleitoral e a população está com o poder de reconduzi-lo à Prefeitura ou mandá-lo embora.
Outro postulante é Murilo Bonfim (PT) que, segundo razoável parte da população de Curaçá, é um sujeito decente, humilde, prestativo, sem mácula, sem nenhuma mancha em sua vida pública e pessoal.
O terceiro candidato é o ex-vereador Flamber Feitosa (PSD) que, segundo se sabe, é um sujeito decente, correto, de boa índole, muito querido em todo território do município e com boas qualidades para investir-se no cargo de prefeito.
Em Chorrochó, disputam dois candidatos: o prefeito Humberto Gomes Ramos (PP), que luta pela reeleição e o ex-vereador Silvandy Costa Alves (Bady), que se embrenhou na oposição e quer derrubar o reinado do atual prefeito, lastreado em duvidosa aliança com a ex-prefeita Rita Campos que, curiosamente, vem das hostes do prefeito Humberto, que a inventou politicamente.
Todavia, o que interessa nisso tudo é o resultado das urnas. O povo é soberano e sua vontade agiganta-se no esconderijo da sessão eleitoral e se sustenta na liberdade de escolha.
Se a maioria fizer a escolha errada e não surgir uma luz para clarear a consciência dos eleitos, resta ao povo seguir a lição do poeta: “gritar na escuridão” da mesmice.
E aí, como diz a sabedoria do centenário e longevo curaçaense Luizinho Lopes, “só escapa quem voar” (o sociólogo Esmeraldo Lopes anotou esta frase noutro contexto e eu tomo a liberdade de citá-la aqui).
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