O solavanco das urnas

As eleições municipais de 2020 não acabaram, porque ainda vem o segundo turno, mas é possível antever o resultado da chacoalhada que o povo deu em alguns políticos. 

A verdade é que as urnas deram um solavanco nos políticos medíocres, que insistem em agarrar-se ao poder e também nos aventureiros (são tantos!), que queriam alcançá-lo.

Por extensão, as urnas sacudiram os partidos políticos.

Por exemplo: o Partido dos Trabalhadores (PT) perdeu 32% das prefeituras conquistadas em 2016, mesmo caso do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que deixou escapulir 38% das prefeituras arrebanhadas em 2016.

O PT puxou para um lado, o PSDB esticou para o outro e daí surgiu a polarização, ou melhor, o “nós e eles”, que o morubixaba pernambucano de Caetés celebrizou, equivocadamente.

Contudo, o povo agora começou a mandar o recado através das urnas. Há outros caminhos e nem todos levam ao PT e ao PSDB.  

Até o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reina absoluto em número de prefeituras em todo o Brasil, encolheu 27%.     

Alguns partidos cresceram. É o caso do Democratas (DEM), que Lula da Silva, quando pensava que era Deus, queria extirpar da política do Brasil, mas errou o cálculo político.

O DEM deu um salto e elegeu mais 70% dos prefeitos relativamente a 2016, engordando, sobremaneira, sua fatia no cenário nacional.

O segundo turno parece não trazer surpresas. Haverá eleições em 57 municípios, mas as pesquisas de opinião já sinalizam os candidatos que sairão vitoriosos, de modo que a estatística não beneficia muito o atual cenário partidário. Alguma alteração aqui e acolá, sem nenhuma importância no cômputo geral.

A direita bolsonarista – extrema, para alguns – murchou significativamente nas urnas. A vontade do povo optou por outros caminhos que em nada robustecem a base eleitoral do presidente da República, por enquanto.

Por outro lado, a esquerda também encolheu, como é o caso do PT, que até aqui vinha se portando como matriz controladora dos demais partidos de esquerda, todos afoitos para dividirem o bolo da corrupção nacional.

Na capital de São Paulo, em segundo turno, a esquerda labuta para abocanhar a vitória do invasor de propriedades Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que deu um baile no PT no primeiro turno e empurrou o candidato concorrente petista para o constrangedor sexto lugar.

Guilherme Boulos está se escorando na credibilidade de Luíza Erundina, paraibana de Uiraúna, ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice-prefeita. Erundina é um dos grandes nomes da esquerda democrática convicta e ex-petista. Sustenta princípios que o PT jogou no ralo ao optar pela corrupção.

Guilherme Boulos tem a cara de Lula da Silva, cabeça de Lula, barba de Lula, demagogia de Lula e uma capacidade impressionante para contar lorotas, como Lula.

Ou, como dizia Leonel Brizola, “se o bicho tem couro de jacaré, cabeça de jacaré e olho de jacaré, só pode ser jacaré”.

À semelhança de Lula, Guilherme Boulos pode surpreender e ter sucesso político. Até se mudou para a periferia de São Paulo, para dizer que é pobre, mas isto não exclui sua condição anterior de morador de bairro de elite.

Lula começou assim: engabelando os incautos. Deu no que deu.

Os incautos acreditaram e continuam pobres. Lula ficou rico.

araujo-costa@uol.com.br

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