Primavera de Praga, 1968. Alexander Dubcek, serralheiro-mecânico e secretário geral do Partido Comunista da Tchecoslováquia, assumiu o poder e tentou implantar a renovação do socialismo no país, que denominou de reformas.
Os tanques soviéticos e do Pacto de Varsóvia invadiram Praga. Moscou entendeu que se tratava de “ação do imperialismo internacional, com apoio de forças internas, para corroer a unidade do campo socialista e restaurar o capitalismo”, segundo o jornal Pravda, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista da então União Soviética.
Movido pelos ventos e gritos de liberdade, um cego enfrentou com bengaladas um tanque de guerra numa ponte de Praga. O homem recusava-se a aceitar a invasão soviética e pedia a liberalização política, liberdade de imprensa, protestos nas ruas e autocrítica do Partido comunista.
O jornalista Mauro Santayana à época correspondente do Jornal do Brasil em Praga conta o impressionante episódio em brilhante contribuição para o livro Liberdade vigiada, do filósofo e pensador francês Roger Garaudy (1913-2012). A notícia do Pravda é também citada por Santayana.
Na Bahia de maioria petista, a imprensa publicou que o governador Rui Costa (PT) vai autorizar as autoridades de segurança pública a monitorar as redes sociais no estado, com o intuito de identificar e reprimir eventuais desobediências a normas editadas por Sua Excelência contra o coronavírus.
O problema não é o monitoramento em si, mas a intromissão indevida do Estado na vida privada dos cidadãos, que beira a inconstitucionalidade, o despropósito, até mesmo a censura.
Não é novidade que alguns próceres do Partido dos Trabalhadores (PT) se espelham em Cuba e noutros países com arroubos autoritários, a exemplo da Venezuela, que muitos petistas tanto admiram, a começar pela presidente nacional do partido, Lula da Silva, José Dirceu e outros tantos mais.
Mas o mundo evoluiu, inclusive Cuba, embora muitos petistas não tenham evoluído para além das fronteiras ideológicas, o que parece ser o caso do governador Rui Costa, que deu essa recaída.
Como se vê, o governador da Bahia quer vigiar a liberdade dos baianos, os passos dos baianos, o dia a dia dos baianos, a privacidade dos baianos.
Não se trata aqui de crítica às medidas necessárias que o governador está tomando contra a propagação do coronavírus, em benefício de todos. É seu dever fazê-las e fiscalizar o cumprimento delas. Sem exageros.
Entretanto, as medidas devem ser rígidas, não ilegais.
O que não é plausível é o monitoramento das redes sociais, que pode resvalar em direção a objetivos políticos escusos e não, propriamente, beneficiar a população.
O governador quer bisbilhotar a vida dos baianos, talvez em razão da saraivada de votos contrários que o PT recebeu nas eleições municipais, mormente nos grandes centros urbanos.
Neste particular, o governador Rui Costa iguala-se ao presidente Bolsonaro, que se serve das redes sociais para se proteger politicamente e, segundo o noticiário, nem sempre amparado pela lei.
À semelhança do cego de Praga, estamos impotentes e desamparados, lutando contra o gigantismo do Estado, que parece pretender esmagar nossa liberdade individual e nossa privacidade.
Na Bahia de Rui Costa – feudo do PT – é preciso ter cuidado com o guarda da esquina.
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