Caso Beatriz: a mancha que Petrolina carrega

“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça por toda a parte” (Martin Luther King Júnior, 1929-1968)

Completam-se cinco anos do bárbaro assassinato de Beatriz Angélica Mota, uma criança de sete anos, fato ocorrido nas dependências do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina.

Pela demora na elucidação do caso, é razoável supor que as linhas de investigação parecem mais estribadas em hipóteses ainda não esgotadas do que, propriamente, em caminhos científicos que levem ao autor ou autores do crime.

Houve uma sucessão de falhas primárias, antes e depois do crime, a começar pela ausência ou insuficiência de câmeras e de seguranças nas dependências e no entorno do colégio.

É razoável entender que a instituição de ensino negligenciou neste particular, mormente por se tratar da realização de evento tão importante na ocasião, uma festa de formatura.

Falhas também da polícia civil, quero crer. A primeira, pelo que se sabe, foi não ter isolado a escola, em sua totalidade, ainda no ambiente de flagrância. O isolamento parcial pode ter comprometido as investigações.

Meses depois, no decorrer das investigações, a polícia sequer sabia se havia mais de um participante na cena do crime. Salvo engano, o quadro continua ou parece o mesmo.

O noticiado sumiço de chaves do estabelecimento dias antes do crime parece auxiliar a linha investigatória, até agora sem êxito. Isto pode significar premeditação, preparo e engendramento da forma criminosa de agir.

Muita coisa pode ter mudado com o intuito de amparar as investigações nesses cinco anos, mas o fato é que a polícia judiciária de Pernambuco não saiu do lugar.

O crime foi perpetrado dentro de uma instituição de ensino católica e tradicional. Entretanto, o inegável primado da formação de caráter que esta instituição sempre ostentou não impede que em suas dependências circulem delinquentes perigosos, como ficou provado nessa barbaridade.

Pelo que se vê, faltou aí a cautela, a vigilância, a proteção necessária a seus frequentadores, ônus que a instituição de ensino não desempenhou eficientemente.

Contudo, a elucidação do crime esbarra na estupidez burocrática. As autoridades de outras jurisdições policiais demoraram em somar forças e entrar nas investigações, supõe-se que por entrave legal, burocrático.

É uma questão de competência funcional, esta expressão bonita que a legislação usa para dificultar o funcionamento e agilidade do serviço público, sempre aquém das exigências da sociedade.

A Polícia Federal, tantas vezes lembrada para auxiliar nas investigações, em princípio esteve impedida de fazê-lo, simplesmente porque este é um caso de competência da polícia civil de Pernambuco.

Nesta quadra do tempo é utópico acreditar que a vida vale mais do que os entraves burocráticos.

Todavia, sonhar é possível e as leis ainda não nos proibiram de externar nossos sonhos.

A união dos governos em todos os níveis, independentemente de suas esferas de competências legais, talvez possa flexibilizar a burocracia e possibilitar maior robustez às investigações do caso Beatriz.

Quiçá através de uma lei, de uma portaria, de um convênio ou, principalmente, da clarividência de espírito das autoridades.

A burocracia e a impunidade não podem ser aliadas de criminosos.

Custa acreditar que monstros capazes de praticarem delitos tão bárbaros ainda não tenham sido excluídos do convívio social.

Contudo, devemos acreditar em nossas autoridades e em nossas instituições.

“É uma dor que não tem nome”, diz a mãe de Beatriz. Não tem. Não pode ter.

A polícia civil de Petrolina é eficiente, cautelosa e diligente, mas não pode chamar para si este monstruoso atestado de ineficiência.  

Petrolina carrega esta mancha, este desdouro.

araujo-costa@uol.com.br         

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