O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o afastamento do secretário de Segurança Pública da Bahia. Em consequência forçada, o governador Rui Costa (PT) formalizou a exoneração.
Segundo alegação do Ministério Público Federal (MPF) acatada pelo STJ, o secretário desempenhava “papel central na garantia da impunidade dos diversos núcleos criminosos” que atuavam na venda de sentenças que envolvia membros do Poder Judiciário baiano, inclusive juízes e desembargadoras.
O MPF diz que a atuação do secretário “consistiria em neutralizar os opositores do esquema criminoso”.
O Ministério Público pediu a prisão temporária do secretário, mas o STJ negou. Aliás, o Ministério Público pede tudo, até o que não pode pedir. Sustentar processualmente a razão do pedido é outra história que não vem ao caso.
O ex-secretário Maurício Teles Barbosa é experiente, formado em Direito, delegado da Polícia Federal, com cursos na área de inteligência na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), além de ter comandado diversas operações, inclusive contra o crime organizado. Foi superintendente da Polícia Federal na Bahia.
Em quadro assim, é ingênuo acreditar, pelo menos por enquanto, que o ex-secretário tenha se embrenhado na prática de crime tão sofisticado, consoante alega o MPF, embora a palavra derradeira e definitiva seja do Judiciário.
O governador Rui Costa tem se mantido longe de escândalos de corrupção, o que lhe garante, até agora, a confortável posição de possível candidato presidencial do Partido dos Trabalhadores em 2022, se o morubixaba Lula da Silva não melar a indicação em favor do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ou outro que vier a surgir no horizonte do delírio petista.
O escândalo que passou mais perto de Rui Costa, mas não o atingiu, foi o propinoduto por onde transitaram os marqueteiros e publicitários petistas João Santana e Valdemir Garreta e envolveu a famosa Torre Pituba, um sofisticado edifício que os petistas inventaram em Salvador, financiado com dinheiro da PETROS, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.
William Ali Chaim, ex-guerrilheiro do MR8, que passou pelo histórico Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se filiou ao Partido dos Trabalhadores apareceu como operador de propinas ofertadas ao PT pelas construtoras OAS e Odebrecht. Por suas mãos passaram, segundo investigações, pelo menos R$ 22 milhões de propinas endereçadas ao PT.
O Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8) foi um grupo guerrilheiro fundado na década de 1960, por militantes de esquerda, para combater o regime militar dos generais-presidentes.
Mas o fato é que Rui Costa passou longe desse dinheiro ou passaram com o dinheiro longe dele.
De qualquer forma, a acusação de envolvimento do ex-secretário de Segurança da Bahia nesse rumoroso caso vinculado à venda de sentenças respinga em Rui Costa, por uma razão muito simples: Maurício Barbosa sempre foi um dos secretários mais próximos do governador e com ele mantém considerável afinidade de pensamento e atuação.
Todavia, parece que os orixás estão conspirando a favor do governador Rui Costa. É curioso o silêncio da imprensa sobre esse quiproquó envolvendo o ex-secretário baiano.
Meio caminho andado. Quando a imprensa dá de ombros para assuntos sérios é sinal de que alguém está sendo beneficiado com o silêncio, mesmo que involuntariamente.
Mutatis mutandis, como dizem os entendidos em direito, se esse secretário trabalhasse no Palácio do Planalto, sem dúvida a cobertura da imprensa seria outra e os comentaristas do Grupo Globo estariam roucos de tanto repetir o mesmo assunto.
Basta lembrar a polêmica que a imprensa criou sobre a morte do miliciano bolsonarista no município baiano de Esplanada. A imprensa transformou a operação policial em ridículo fato político que não se sustentou.
O governador Rui Costa sai enfraquecido desse episódio envolvendo seu ex-secretário de Segurança Pública e os prejuízos políticos podem aflorar na campanha presidencial, se ele for candidato.
No mínimo, o caso servirá de matéria-prima para a campanha dos adversários do Partido dos Trabalhadores, embora na Bahia o PT não tenha adversários, mas aliados disfarçados de opositores.
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