Toda asneira que o presidente da República diz – e não devia dizer – a imprensa faz estardalhaço porque, ademais, o papel da imprensa é este: informar.
O presidente Bolsonaro andou duvidando da eficácia e segurança de uma das vacinas em estudo e até levantou a hipótese do imunizante transformar pessoas em jacarés.
Evidente que se trata de uma brincadeira sem graça e inoportuna nesta quadra difícil por que a humanidade vem passando.
Todavia, a imprensa não fala de outro assunto. Parece que as besteiras que o presidente fala são mais importantes do que a seriedade dos demais problemas que o Brasil enfrenta.
Com o aumento dos casos da pandemia do coronavírus e o consequente colapso do sistema de saúde, que já se mostra incapaz de absorver e tratar os infectados, melhor que nos vacinemos, quando for possível e nos arrisquemos em ser transformados em jacarés do que faltarem cemitérios para enterrar nossos mortos e a nós próprios.
Pântanos e lagoas há muitos.
O cenário é assustador. Em São Paulo já não há vagas em hospitais.
O governador-pavão de São Paulo, que a imprensa adora e o eleva ao pedestal da hipocrisia, diz que São Paulo vai bem, sim senhor. Mas João Dória não explicou, até hoje, porque concordou em enterrar milhões de reais nos hospitais de campanha e permitiu que fossem desativados em plena pandemia.
Em todo caso, já é hora de o presidente da República deixar que seus assessores falem dos assuntos de governo, inclusive sobre campanha de vacinação e fique quieto para não fragilizar ainda mais o estado emocional dos brasileiros.
Até na ditatura militar (1964-1985) os generais-presidentes tinham porta-voz para falar em nome do governo e não saíam por aí falando impropriedades asnáticas.
Escárnio I
“Sem precisar participar de nenhuma votação e nem sequer pisar em Brasília, a senadora Nailde Panta (Progressistas-PB) poderá receber R$ 52 mil entre salários e verbas indenizatórias por apenas 15 dias no cargo, no recesso parlamentar.
Segunda suplente na chapa de Daniella Ribeiro (PP-PB), a parlamentar tomou posse anteontem, mas só deve ocupar a vaga até o dia 21 deste mês, quando a titular retorna de licença.
Mesmo assim, terá direito a todos os benefícios previstos nas regras do Senado” (O Estado de S.Paulo, 08/01/2021).
Um escárnio, um acinte a todos nós, contribuintes.
Escárnio II
A Câmara dos Deputados paga para cada um deputado a quantia de R$ 33,7 mil, a título de auxílio-mudança.
Ou seja, os deputados federais recebem esse auxílio-mudança no início e no fim do mandato, mesmo que morem em Brasília e não precisem fazer qualquer mudança.
Total da conta que os brasileiros pagam por essa maracutaia indecente: R$ 20 milhões, como ajuda de custo. Isto mesmo, ajuda de custo.
Mais um escárnio, um acinte a todos nós, contribuintes
Esta história é antiga. Só se repete a cada legislatura.
Ninguém muda. Ninguém quer mudar.
As regras são feitas pelos próprios parlamentares que delas se beneficiam.
araujo-costa@uol.com.br