Liberdade de opinião e direito de divergir

“No mesmo dia já me chamaram de bolsonarista e radical de esquerda, por desconhecidos da internet, sem nenhum conhecimento de minha história” (Fafá de Belém, cantora).

Este escrevinhador também. Alguns desinformados já me chamaram de bolsonarista e outros lunáticos dizem que sou antipetista e antilulista. Há até quem use a expressão “seu presidente” ao se referir a Bolsonaro. 

Só há uma explicação para pessoas que pensam assim: elas padecem de falta de informação e de capacidade de conviver com os antagonismos de maneira democrática. Não têm respeito às opiniões contrárias e se apegam às paixões políticas.

A liberdade de opinião e a livre expressão do pensamento são bens inquestionáveis e inatacáveis assegurados em mandamento constitucional.

Por óbvio e elementar, ninguém é obrigado a concordar com a opinião de outrem, mas também é insensato sair por aí distribuindo rótulos simplesmente porque pensa de forma contrária. Isto é pequenez de raciocínio, pensamento acanhado.

O político mineiro Tancredo Neves, conhecido articulador e defensor do diálogo entre adversários, dizia que “são as ideias que devem brigar e não os homens”, ou seja, não se devem misturar as coisas.

Lembro da conhecida frase do jornalista Reinaldo Azevedo (O País dos Petralhas), que lhe rendeu gigantescos protestos da esquerda: “Tudo o que é bom para o PT é ruim para o Brasil”.

Outrora crítico contumaz do Partido dos Trabalhadores e de seus métodos, Reinaldo Azevedo hoje deita-se esplendidamente no colo de Lula e dos petistas, o que significa dizer que as opiniões mudam, os fatos mudam, a realidade se transforma e, apesar disto, o mundo não acaba e, se vier acabar, não será por isto.

Tenho o hábito de acompanhar e comentar os fatos políticos relevantes de minha região, especialmente de dois municípios encravados no sertão baiano, que me são caros: Curaçá e Chorrochó.

É uma forma de contribuir modestamente com o debate político de lá, sem nenhuma pretensão de ofender este ou aquele grupo político ou qualquer pessoa, isoladamente.

Em razão disto, tenho recebido manifestações severas de defensores de grupos políticos locais, embora poucas, felizmente. Sou aberto às críticas, tanto que deixo meu e-mail ao final de cada texto publicado.

Essas manifestações acompanham-se de um quê de rancor incapaz de colocar-se no campo da civilidade.

Contudo, a maioria compreende meu intuito de contribuir para o debate de ideias. Logo, a maioria inteligente “captou a mensagem”, como diria o aluno do professor Raimundo.

De outro turno, esses debates, qualquer que seja o autor – e não somente este escrevinhador – contribuem modestamente para despertar nos jovens e estudantes de hoje o hábito de aprenderem a pensar, de modo que não se transformem mais tarde em massa de manobra de políticos espertos, inescrupulosos e moralmente indecentes.

Ao contrário, quando meus textos versam sobre assuntos nacionais, as críticas são mais amenas, o que significa entender que o acanhamento de ideias ainda se concentra nos pequenos municípios de nossos rincões.

Ou, num raciocínio mais amplo, o enraizamento das paixões políticas ainda não se desvinculou do mandonismo dos chefes políticos locais e da proximidade entre a troca de favores e as urnas.

Para as pessoas desvalidas e abandonadas, a promessa de um emprego público ou a limpeza de uma barragem no sertão, para saciar a sede do criatório do sertanejo, estão acima de qualquer opinião ou crítica política.  

Em resumo, o bom da democracia, dentre outros esteios, é a convivência polida com os contrários e a liberdade de opinião, sem excessos, dentro dos parâmetros permitidos por lei.

Temos o direito de divergir, em quaisquer situações.

Todavia, não custa ponderar primeiro os fatos e auscultar a verdade, antes de sairmos por aí apedrejando os outros, tão-somente porque pensam diferente de nós.

araujo-costa@uol.com  

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