O jurista Almir Pazzianotto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), foi ministro do Trabalho no governo do presidente José Sarney.
Elegante, educado, culto, inteligente, antes Almir Pazzianotto tinha sido advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, hoje Metalúrgicos do ABC.
O presidente do sindicato à época era Luiz Inácio da Silva, que ainda não havia ficado rico e nem incorporado Lula ao nome. Era simplesmente Luiz Inácio da Silva.
A riqueza de Lula veio mais tarde, depois de muito trabalho. É o único aposentado do INSS que ficou rico. Inteligência é isto e não se discute.
Na condição de ministro do Trabalho, Almir mandou redigir um documento sobre assunto qualquer de sua pasta. Documento pronto, o assessor o levou ao gabinete, para colher assinatura do ministro.
Depois do publique-se, do cumpra-se e da data, como de praxe em todos os documentos públicos, o nome pomposamente grafado: Almir Pazzianotto.
O assessor não achou muito elegante o Pinto do ministro e o omitiu na redação do documento, talvez pensando em agradar o chefe e criar um fato, uma marca no ministério. Sabe como é, puxa-saco e formiga existe em qualquer lugar.
O humilde Almir Pazzianotto correu os olhos sobre o documento e, com ar de reprovação, perguntou:
– Cadê o Pinto do meu nome?
O atabalhoado assessor não sabia como explicar a omissão de propósito, ponderou aqui e acolá, enrolou-se e acabou corrigindo e grafando o nome correto do ministro, que não abria mão do seu Pinto e, convenhamos, o ministro estava correto.
No livro O Aquário Negro (1986), o frade dominicano Frei Betto inseriu um personagem, que vivia à margem da sociedade e dizia o seguinte:
“Lembrei-me de meu pai falando que a Justiça não tardaria”.
“Prometi a mim mesmo que ia esperar a Justiça e arranjei um amigo, um cachorro vira-lata, cheio de pereba no corpo, fedorento como o diabo, mas muito bom amigo, com quem eu falava como seria o dia em que a Justiça chegasse”.
“Ele dormia comigo e comia da mesma farinha e do mesmo feijão e ele me dizia que tinha orgulho de ser vira-lata e que quando viesse a Justiça, os vira-latas iam tomar conta do mundo”.
Acho que João Dória (PSDB), governador-pavão de São Paulo e o presidente da República Jair Bolsonaro estão rodeados de assessores à semelhança do assistente de Almir Pazzianotto Pinto, preocupados somente com detalhes sem importância e não, propriamente, com o conteúdo, o principal: o dever de governar com seriedade e decência.
João Dória vem apequenando a governadoria de São Paulo. Despreparado e pernóstico, agora se rebaixou até mais não poder e usou palavras inapropriadas na televisão contra o presidente da República, simplesmente com o intuito de firmar-se para a disputa presidencial de 2022.
Por sua vez, o presidente Bolsonaro revidou o palavreado sem freio do governador-pavão, também usando expressões inapropriadas para o elevado cargo que ocupa.
A população está definhando, centenas morrendo todos os dias, porque tanto o governo federal quanto os estaduais e prefeitos não tomaram as rédeas de suas atribuições e se descuidaram do avanço da pandemia do coronavírus.
Já falta oxigênio nos hospitais, como é o caso de Manaus, no Amazonas. Há quem esteja recorrendo à Justiça para, pelo menos, conseguir o básico: ar para respirar.
Enquanto isto, à semelhança do personagem de Frei Betto, os vira-latas que somos nós governados, aguardamos a Justiça chegar para dominarmos o mundo. Em vão.
A Justiça não chegará. Nunca chegará.
A Justiça existe para os ricos, para os afortunados, para a elite desavergonhada que dilapida os cofres públicos do Brasil, para os homens públicos inescrupulosos.
Alguns até furtaram o dinheiro destinado ao combate à pandemia do coronavírus.
Ah! Para esses a Justiça chega. Apressadamente. E os concede Habeas Corpus para se livrarem do xilindró e continuarem furtando.
araujo-costa@uol.com.br