Os desatinos do jornalismo político

O jornalismo, qualquer que seja ele, há de fundar-se em fatos e não em “ouvir-dizer”, tampouco na opinião de seus profissionais.

O jornalismo político tem uma função mais nobre: mostrar a seriedade dos homens públicos e seus eventuais defeitos éticos e morais. Mas há um fio bastante tênue entre a seriedade jornalística e o viés político que pode contaminar os profissionais de imprensa. 

A rigor, não existe jornalismo político, mas profissionais que se especializam em assuntos do poder político, assim como muitos se interessam por outras áreas da atividade humana, a exemplo da economia, educação, ecologia, polícia, religião, et cetera.

Isto vem a propósito de, às vezes, leitores e telespectadores da imprensa em geral se depararem com interpretações de fatos políticos mais adstritas às tendências partidárias dos articulistas, o que, de certa forma, distorce o conteúdo da matéria e retira o brilhantismo dos profissionais de imprensa, embora muitos desses profissionais deem azo a esse caminho.  

É comum, por exemplo, redes de televisão contratarem comentaristas para avaliarem tais assuntos e aí, infelizmente, esses profissionais exageram ao defender seus veículos de comunicação e apequenam-se em suas funções de comentaristas imparciais e transparentes.

Os exemplos são muitos, claros, recorrentes e inquestionáveis.

Assim acontece também com repórteres. Muitos saem para a rua com uma pauta e retornam com informações mais convenientes à linha de pensamento dos veículos de comunicação para os quais trabalham. Isto desfigura o exercício da profissão.

Outra maneira de camuflar a verdade é omitir-se sobre assuntos importantes que interessam à sociedade, mas não interessam aos grandes grupos de comunicação, aos governos e autoridades.

O Diário do Poder publicou o vergonhoso esbanjamento de dinheiro público protagonizado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.

Rodrigo Maia usou 882 vezes aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para seus deslocamentos pelo País. Não se sabe se todas as vezes em missão oficial, que ampara o uso dos aviões.

É preciso esclarecer, a bem da verdade, que o presidente da Câmara dos Deputados tem essa prerrogativa, assim como o presidente do Senado Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministros de Estado e comandantes militares.

Mas essa prerrogativa não lhes dá direito a abusos e exageros que deem origem a despesas pagas pelos contribuintes.

O Diário do Poder listou: só em 2020, Rodrigo Maia requisitou aviões da FAB 140 vezes; em 2019, 250 vezes; em 2018, 198 vezes; em 2017, 211 vezes; em 2016, 79 vezes.

Rodrigo Maia anda muito inquieto.

“Aliados de Maia atribuem seu nervosismo à iminente perda da mordomia. Deixando de ser presidente, ele terá de voltar às filas nos aeroportos”, diz o Diário do Poder.

Os comentaristas do Grupo Globo, que apoia Rodrigo Maia, que apoia o governador-pavão João Dória (PSDB), não disseram uma palavra sobre esse desperdício.

Nem vão dizer. Não interessa dizer.

O jornalismo político comete esses desatinos.

araujo-costa@uol.com.br

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