Ditadura não, presidente.

“Na política, a coragem é fundamental. Mas não exagere” (Ulysses Guimarães, 1916-1992).

Em data recente, o presidente Bolsonaro andou misturando alhos com bugalhos – o que ele sabe fazer muito bem – e assegurou que são as Forças Armadas que definem se o País será democracia ou ditadura.

Não é por aí, presidente.

O assunto é inoportuno e o Brasil não está questionando isto. Aliás, estamos indo muito bem carregando nossa tenra democracia, apesar dos corruptos de direita e de esquerda, que ela produz.

Tentando submergir dos escombros de minha ignorância, ouso discordar do excelentíssimo presidente da República.

A democracia é definida pela soberania popular. A voz das urnas, a liberdade de escolha e a livre consciência política são os esteios, dentre outros, nos quais se assentam o regime democrático.

A ditadura, ao contrário, surge de mentes doentias, autoritárias, cruéis, incompatíveis com a convivência patriótica e com os antagonismos.

Assim, foi no Chile, de Augusto Pinochet; na Argentina, de Jorge Rafael Videla; nos países asiáticos e no mundo árabe, a exemplo da Coreia do Norte, Síria, Iraque e outros tantos.

Assim, foi no Brasil, dos marechais Castelo Branco e Costa e Silva e dos generais Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo.

Quando sinalizamos que dependemos das Forças Armadas para definirem o nosso regime político é sinal de que ainda não estamos vislumbrando o futuro, mas continuamos presos ao passado, de resto sombrio e escabroso.

As ditaduras não servem de bons exemplos. Nunca foram bons exemplos, em nenhuma época ou em quaisquer continentes.   

Nas democracias, as Forças Armadas se submetem ao poder civil; nas ditaduras elas se transformam em protagonistas da truculência e do desprezo aos cidadãos.   

As democracias sustentam a liberdade e compartilham as decisões políticas e de gestão.

As ditaduras matam, torturam, espezinham os cidadãos e suprimem seus direitos fundamentais, tornam-se senhoras da impunidade, em razão das barbáries que praticam e das regras que elas mesmas editam.

Não é por aí, presidente. Não exagere em sua coragem.

Estamos muito bem assim, convivendo democraticamente.

araujo-costa@uol.com.br

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