A semelhança entre Lula da Silva e Ciro Gomes é o copo.
A diferença é que, em estado etílico, Lula desanda-se a contar lorotas e a disputar com Deus para saber quem dos dois é mais poderoso no Universo. Deus sempre ganha, mas a ficha de Lula nunca cai.
Lula tem mágoa de Pedro Álvares Cabral. Não concorda que o navegador português tenha tirado dele a oportunidade de descobrir o Brasil.
Entretanto, Lula da Silva é um animal político inofensivo e, portanto, não se deve levá-lo a sério quanto aos destemperos, lorotas e afirmações inverossímeis que ele costuma dizer.
É o jeito dele, sempre foi assim.
Erros e eventuais desvios de conduta de Lula, enquanto presidente da República, são coisas diferentes, que aqui não vêm ao caso.
Ciro Gomes, ao contrário, em estado etílico, fica violento, agride Deus, o diabo e o mundo e já saiu por aí, tarde da noite, determinando aos desavisados que se atreviam a usar o direito de ir e vir: “circulando, circulando, circulando”.
Outra feita, litro de uísque em punho, também à noite, enfrentou um grupo de pessoas que certamente não concordava com sua linha política.
À moda dos antigos inspetores de quarteirão, Ciro Gomes confunde poder com arrogância.
Mas a diferença mais robusta entre Lula e Ciro Gomes é que Lula é fiel aos amigos, dentro do possível; Ciro Gomes labora na ingratidão. Taí o exemplo de sua relação conturbada com o próprio Lula de quem foi ministro.
Antes de entrevistarem Ciro Gomes, os órgãos de imprensa deveriam exigir dele teste de bafômetro. Isto facilitaria mais o entendimento de seu raciocínio destrambelhado e violento.
O Supremo Tribunal Federal já sinalizou a Lula da Silva que o ex-juiz Sérgio Moro será declarado parcial no processo do tríplex do Guarujá, mas o ex-presidente continuará inelegível, por conta de outra condenação, a do sítio de Atibaia, cuja sentença condenatória não foi proferida pelo ingênuo Sérgio Moro
Sérgio Moro foi um arremedo de juiz que envergonhou o Poder Judiciário do Brasil. Enxovalhou a Justiça, que já anda capengando e com grande descrédito perante a sociedade.
Sérgio Moro construiu um pedestal para nele entronizar sua derrocada moral. O STF fará o resto.
Lula da Silva tem seguras fontes no STF para inteirar-se dos futuros e muitos julgamentos no tribunal que envolvem seu nome. Uma dessas fontes, de resto respeitável, é um membro da Corte que sempre fez parte da copa e cozinha de Lula, em São Bernardo do Campo.
Mas é bom que não se misturem as coisas. Ninguém é proibido de ser amigo de ninguém. O ministro em referência é amigo de Lula e de sua família muito antes de ser ministro do STF e de Lula ser famoso e presidente do Brasil. Não há nenhum mal nisto. Nem demérito.
Informado do previsível resultado do julgamento no STF, que provavelmente lhe será parcialmente desfavorável, Lula se antecipou e mandou o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad começar informalmente a campanha como pré-candidato do PT a presidente da República em 2022.
Tudo de novo: polarização entre direita e esquerda, petistas, antipetistas e Ciro Gomes no meio, ciscando, atrapalhando a seriedade das coisas, com direito a palavrões e outros destemperos.
Quem não deve estar contente com a decisão de Lula da Silva é Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão que, em tempo de pandemia, mandou construir “módulos de encontros íntimos” em 11 presídios maranhenses, os chamados “motéis”, ao tempo em que critica o governo federal por negligência quanto ao combate à pandemia do coronavírus.
Custo dos “motéis” de Flávio Dino: R$ 1,3 milhão. Infectados no Maranhão: 210 mil; mortos: 4,8 mil.
Há hipocrisia maior do governador? Deve haver.
O dinheiro dos “motéis” de Flávio Dino provém do Ministério da Justiça, verba para melhoria do sistema prisional. Ele está gastando na construção de “motéis”, que seu governo elegeu como prioridade.
Flavio Dino ainda sonha com o apoio de Lula a uma eventual e certamente fracassada candidatura a presidente da República.
Lula da Silva dá de ombros e insiste em lançar o nome do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, mais uma vez, como pré-candidato do PT a presidente da República em 2022.
Lula quer o PCdoB como linha auxiliar do PT, subserviente, como sempre.
Todavia, o melhor nome do PT para disputar a presidência da República em 2022 ainda é o governador da Bahia, Rui Costa, mas Lula da Silva não quer, embora pretenda fortalecer o feudo petista na Bahia.
Além de Rui Costa, há o ex-ministro Tarso Genro, do Rio Grande do Suil. Mas Tarso Genro só aceita se o PT mudar e o PT não muda.
Lula prefere Fernando Haddad, seu confiável ex-ministro da Educação.
Haddad não carrega manchas em seu nome, por enquanto. Apenas alguns rumores incompatíveis com a conhecida conduta do ex-prefeito de São Paulo.
Sujeito decente e educado, a dificuldade de Haddad é uma só: penetrar nos distantes rincões do Brasil e se tornar conhecido eleitoralmente, lugares em que Lula era visto como santo.
Em muitos desses lugares, os aplausos que Lula recebia transformaram-se em vaias.
A era dos postes não é a mesma.
Post scriptum:
Interessante. Semana passada o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) aliou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) com o intuito de, juntos, elegerem os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O fiasco todos conhecem,mormente na Câmara.
Neste domingo, 07/02, uma semana depois, o mesmo deputado Rodrigo Maia esteve na casa de João Dória (PSDB), governador-pavão de São Paulo e ambos conjecturam a formação de uma frente contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e Jair Bolsonaro com vistas às eleições de 2022.
Como parte do conluio, João Dória convidou Rodrigo Maia para ingressar no PSDB.
Deram um chute no PT.
Difícil entender o caráter desses senhores.
araujo-costa@uo.com.br