O PT chega aos 41 anos

“Nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo” (San Tiago Dantas, 1911-1964).

O Partido dos Trabalhadores (PT) chega aos 41 anos.

É inegável que o PT foi fundado com nobreza de propósitos, porque assim pensavam seus fundadores. Entretanto, muitos deles abandonaram o barco quando perceberam que o partido estava à deriva e rumando em sentido contrário às convicções que defendiam.

Insta acentuar que isto ficou evidente tão logo o PT assumiu o poder da República, nos primeiros anos de Lula e sinais do mensalão e com o surgimento de outras práticas antes condenadas pela agremiação.

Em 10/02/1980, o PT nasceu errado. Com grande apoteose, foi fundado nas dependências do tradicionalíssimo e centenário Colégio Nossa Senhora de Sion, frequentado pela elite quatrocentona paulistana.

Naquele dia, ali tinha de tudo: intelectuais exaltados, esquerdistas frustrados, sonhadores, líderes bem-intencionados, ex-presos políticos, opositores ferrenhos da ditadura militar e ingênuos de toda ordem, et cetera. Menos trabalhadores.

O simbolismo não podia ter sido maior. Lula diz até hoje, com todas as letras e até com uma ponta de orgulho, que nunca os banqueiros e a elite empresarial do Brasil ganharam tanto dinheiro como nos dois mandatos dele.

Com o tempo, o PT foi arrebanhando ativistas da esquerda católica, profissionais liberais e marxistas de alto costado, de forma que atingiu robustez suficiente para sustentar-se por longas décadas, como principal voz da esquerda.

O fôlego do PT ainda não acabou. Está longe disto. Ele tem estrutura e estofo para liderar o pensamento da esquerda no Brasil e carregar com ele outros partidos satélites, por muitos anos.

O PT também lidera grande massa de seguidores que sequer entende o que é ideário partidário. São os fanáticos lulistas e outros milhares que foram beneficiados com benesses, cargos públicos, mordomias e posições de destaque nos governos petistas.

São os deslumbrados que, à época dos governos petistas, gastavam com regabofes, jatinhos, viagens nababescas, hotéis, bebidas caríssimas e outras inacreditáveis coisas mais.

Em seu aniversário de 41 anos, o PT vive às voltas com o maior de seus dilemas: readquirir a confiança de milhões de trabalhadores e de grande parte da juventude que migraram para outras bandas, em razão do desmoronamento moral do partido.

Lula da Silva criou a polarização “nós” e “eles”, uma imbecilidade, sem dizer exatamente onde estão, distanciou-se arrogantemente de outros partidos e hoje, contraditoriamente, quer reaproximar-se desses segmentos que ele mesmo espezinhou.

O fato é que, com o passar do tempo, o PT foi-se desviando de seu ideário e descambou para a vala comum dos demais partidos comumente inchados de inescrupulosos, aproveitadores, mentirosos e meliantes ávidos por cargos públicos. Muitos deles conseguiram seu intento sob a égide petista.

Outro dilema do PT é a incapacidade de desatrelar-se do morubixaba Lula da Silva. O partido não consegue construir ou vislumbrar outra liderança nacional capaz de substituí-lo e possa assumir a candidatura presidencial em 2022, exceto se Lula indicar.

O PT é Lula. Sem Lula o PT é uma estátua corroída pelo tempo e pelas más ações do partido.

Vaidoso, Lula da Silva dificulta o caminhar do PT com suas próprias pernas. Ele determina com que e com quem o partido deve seguir para retomar o poder que jogou para o alto, em razão de ter priorizado as práticas abomináveis de nossa história política.

Fora da prisão, mas não livre, a estratégia de Lula da Silva foi lançar o maior número possível de candidatos nas eleições municipais de 2020 para lastrear a eleição presidencial de 2022.

O exemplo de 2016 gritou fundo nas entranhas do partido. O desempenho do PT nas eleições municipais daquele ano foi um descalabro em todo o Brasil.

Em São Bernardo do Campo, berço do partido, o PT sequer conseguiu reeleger vereador um dos filhos do ex-presidente que tinha mandato na Câmara Municipal.

Inegável é que, com o passar do tempo, o PT foi-se desviando de seu caminho e descambou para a vala comum dos demais partidos abarrotados de dirigentes inescrupulosos, aproveitadores, mentirosos, meliantes.

Daí para passar às páginas policiais foi um passo, situação que ofuscou o protagonismo do partido e levou alguns de seus dirigentes ao cárcere.

Deu no que deu: Lula da Silva, sua maior liderança, foi-se caindo no despenhadeiro das incertezas jurídicas e, seguramente, decepcionou parte dos brasileiros que nele acreditavam.

Lula nega seus desvios éticos, mas parece não ser o caso de continuar tapando o sol com a peneira.

Como dizia San Tiago Dantas, “nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo”.

Lula levou a malícia ao extremo. Seguirá líder, mas um líder capenga, desacreditado, inclusive por um grande número de pessoas que antes o admiravam.

Mesmo laborando na hipótese de que Lula da Silva possa ser absolvido, em fase recursal, em todos os processos, não há mais como ele e o PT recuperarem a credibilidade do patamar anterior aos governos petistas. Serão sempre vistos como raposas no galinheiro.

A presidente nacional do PT, destemperada e engajada na tentativa de desmoralizar as instituições nacionais, mormente Poder Judiciário, Polícia Federal e Ministério Público, vomita impropérios a cada vez que abre a boca. É um mau exemplo.

Até petistas convictos vêm discordando do discurso piegas da direção do partido. Entendem que o discurso de perseguição alardeado pelos dirigentes não cola mais. E a direção do partido não sabe mudar de estratégia, ou por falta de inteligência ou por cara de pau mesmo.

O PT sabe que errou. Entretanto, não pode exteriorizar sua derrocada, para não desencorajar a militância desinformada e admiradores. Faz um discurso inverso, sem base fática, difícil de convencer, às vezes delirante.

Em consequência, a cada dia fica mais escancarado que o PT não prima pela verdade, mas por tudo aquilo que lhe interessa, principalmente dinheiro e poder.

O partido foi ávido por cargos em todos os níveis e posições da República, mas se descuidou de seu maior patrimônio: a ética.

O inventário de 41 anos do PT apresenta um amontoado de resultados abomináveis, entulhos de radicalismo e, sobretudo, falta de compromisso com a ética, que tanto defendeu.

Todavia, o PT não está isolado neste imbróglio de desfaçatez e lama. Estão aí os outros partidos políticos que lhe fazem companhia, igualmente desmoronados sob o ponto de vista ético. São aliados espertos, comparsas, malandros, velhacos.

A explicação para tudo isto é simples: o PT abandonou o caminho que idealizou e abraçou o fisiologismo, a avidez por posições e cargos, a ânsia pelo poder, o radicalismo, o apoio a ditaduras cruéis.

O PT faz 41 anos. Aniversário triste, macambúzio, insignificante.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário