
Quem escreve, jornalista ou não, às vezes tem de dizer o óbvio. E o óbvio aqui é o seguinte: não é proibido e nem pecado ser rico.
Entretanto – e sempre há um entretanto – a riqueza e seus sinais exteriores devem provir de fontes lícitas, dentre as quais, lastro em bens de família, suor do próprio rosto oriundo do trabalho e, até, proveniente de loterias, para quem acredita em seriedade de loterias, o que não é o caso deste escrevinhador.
Sabe-se que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) vem de classe média. Sabe-se, outrossim, que entrou na política muito jovem, eleito deputado estadual em 2002.
Permaneceu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro até 2018 quando ascendeu ao Senado Federal.
Agora a imprensa noticiou – e o senador confirmou – que Sua Excelência comprou uma mansão em setor nobre de Brasília por R$ 5,97 milhões. Entrada de R$ de R$ 2,87 milhões e financiamento de R$ 3,1 milhões firmado com o Banco Regional de Brasília, com taxas diferenciadas, o que não é comum aos demais mortais deste querido e altaneiro Brasil.
O senador desembolsou mais R$ 182 mil com imposto de transmissão e emolumentos de cartórios.
Nada de mais, não fosse o salário líquido do senador girar em torno de R$ 24,9 mil e a prestação da mansão em 18,7 mil por mês, donde se conclui que Sua Excelência tem outras fontes de renda que amparam a prestação mensal, sem comprometer os meios de sobrevivência familiar.
Nada de mais, não fosse também tratar-se de figura pública que deve prestar contas à sociedade e cingir-se aos ditames da ética pública.
Há outros questionamentos nesta história, a exemplo de o tabelião que lavrou a escritura do imóvel ter omitido, em certidão, os dados do senador comprador e do vendedor, o que não é previsto na Lei de Registros Públicos, mas esta é outra história, embora nebulosa, que aqui não vem ao caso.
O que se pergunta é: como o senador Flávio Bolsonaro, oriundo de classe média e tão jovem atingiu esse padrão de vida estratosférico, simplesmente lastreado em seus vencimentos de parlamentar?
É estranho, é esquisito. Mas somente ele pode explicar, se quiser explicar.
A aquisição da mansão do senador Flávio Bolsonaro em setor nobre de Brasília (setor de mansões Dom Bosco) pode estar conforme a lei e isto não se duvida, mas cabe ao senador, na condição de homem público, provar sua idoneidade moral à sociedade que está com a pulga atrás da orelha, mesmo que isto acrescente grande pitada de ingrediente político.
É direito da sociedade saber. É dever do senador explicar.
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