João Dória agride a democracia

15.mar.2021 – Vagão de trem que leva pessoas de Itaquera até a Luz na manhã de hoje, em São Paulo. Imagem: Luís Adorno/UOL.

Democracia pressupõe também assegurar o direito de viver dos cidadãos.

São Paulo está jogado às traças, abandonado, espezinhado.

O governador João Dória (PSDB), na ânsia de se destacar nacionalmente, o que está sendo difícil, em razão da pequenez de seu pensamento político, negligenciou no tocante às medidas que seu comitê de acompanhamento do covid-19 vem recomendando muito antes das eleições municipais do ano passado.

João Dória diz uma coisa e faz outra. Exatamente porque não sabe o que fazer e lhe falta preparo para administrar o mais importante estado da federação.

Administrar um estado da grandeza populacional e pujança econômica de São Paulo não é para aventureiro, não é para qualquer um. E João Dória é um aventureiro atabalhoado, sem direção e sem rumo.

Semana passada São Paulo atingiu, em um único dia, 521 mortos por covid-19, contrariando a demagoga atuação do governador-pavão João Dória, que vem se vangloriando de estar cuidando bem da população – “salvando vidas”, diz ele – numa clara e indisfarçável demonstração de que se acha melhor do que os demais governadores.

Entretanto, o sistema de saúde paulista entrou em colapso. Faltam vagas em enfermarias e UTIs e já há casos de pessoas que morreram sem atendimento médico.

Em Mauá, simpática cidade do ABC, por exemplo, semana passada morreram três pessoas enquanto aguardavam vaga em hospitais. O quadro, hoje, deve ter aumentado.

Mui tardiamente, o governador paulista decretou severas restrições em todo o estado a partir de 15/03/2021, o que inclui a proibição do direito de ir e vir dos cidadãos, o que é inconstitucional.

Há um toque de recolher que nada recolhe, apenas dificulta o cotidiano de quem luta para alimentar sua família, pagar a conta de luz, a conta de água, o aluguel, comprar o remédio.

A elite continua leve e solta. João Dória quer assim. O pobre está confinado, passando fome.

João Dória transita entre a Flórida (EUA) e o sofisticado Jardim Europa, em São Paulo.

O governador mandou fechar estabelecimentos de toda ordem, qualquer que seja o porte, inclusive de prestação de serviços e até proibiu a prática de atividades religiosas.

Ordem mal elaborada, atabalhoada, ineficaz, inoportuna, tardia.

O transporte público continua apinhado de usuários, o que torna inevitável as aglomerações. A imagem acima é de hoje, 15/03/2021.

Nada o governador fez para disciplinar o funcionamento do transporte público.

Aliás, João Dória fez: retirou maldosamente dos idosos o direito da gratuidade da passagem, como se isto fosse a chave para acabar com o coronavírus.

Sequer o governador-pavão considerou que muitos idosos dependem do transporte público para comprar remédios e outras necessidades básicas do idoso.    

Em suma: João Dória está perdido. Não sabe por onde começar o ataque ao coronavírus, dificulta a vida dos trabalhadores e toma medidas absolutamente ineficazes.   

Mais do que isto, conta lorotas. Ou ele não obedece às orientações do seu comitê de cientistas ou precisa mudar esses assessores urgentemente.

Ou, ainda, precisa penitenciar-se e admitir que é incompetente e aliar-se ao presidente Bolsonaro, o que ele sabe fazer muito bem, porque a ele já se aliou em primeira hora e é difícil negar isto.

O direito de viver dos moradores de São Paulo está sendo severamente arranhado, em razão de negligência do governador paulista.

As restrições são necessárias, sim, desde que tomadas na ocasião certa, o que João Dória não fez e não o fez por conveniência política e por absoluta incompetência.   

Agora, com centenas de pessoas morrendo todos os dias, colapso do sistema de saúde e, sobretudo, incompetência do governador, parece que é tarde a adoção dessas restrições falhas e inconvenientes.

Não obstante esse caos por que passa São Paulo, João Dória teve a desfaçatez de criticar o governador do Rio de Janeiro, acusando-o de não estar atuando adequadamente contra a pandemia. Vontade de aparecer.

Arrogante e intrometido, João Dória recebeu a seguinte resposta do governador do Rio de Janeiro: “do Rio, cuido eu”.

E assim João Dória vai agredindo a democracia. Com cara de galo. Ou melhor, cara de pavão.

araujo-costa@uol.com.br

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