“É muito socó para um socó só coçar” (dito popular)
Dá-nos a impressão de que temos dois ministros da Saúde.
Até a publicação deste artigo, o retrato era este ou parecia ser este.
O general Eduardo Pazuello, que foi demitido – e não saiu – e o médico paraibano Marcelo Queiroga, que foi admitido – e oficialmente não entrou.
O general peca pela ineficiência; o médico, ainda não sabe ao que veio, se veio.
A pandemia trouxe problemas demais para o Ministério da Saúde que não tem conseguido enfrentá-los, nem os resolver.
“É muito socó para um socó só coçar”.
O presidente Bolsonaro padece de um mal gravíssimo, dentre muitos: é mal assessorado politicamente.
O fiasco em que se transformou o convite à médica Ludhmila Hajjar para assumir o Ministério da Saúde só pode ter uma explicação plausível: o presidente da República não conta com uma assessoria política competente.
Como acreditar que Ludhmila Hajjar, sabidamente de esquerda, aceitaria o convite para participar do primeiro escalão de um governo de direita ou, como dizem alguns entendidos, dessa truculenta extrema direita?
Mais do que um fiasco, o convite foi uma gafe.
A única forma possível que permitiria o acerto do convite seria se a médica tivesse colocado sua técnica e profissionalismo acima das paixões políticas, em benefício do Brasil.
Mas ela não conseguiu fazer isto neste momento tão difícil em que o Brasil está sendo dizimado pelo covid-19. Preferiu entrincheirar-se na posição que ocupa na esquerda barulhenta.
Contudo, nem por isto a médica merece crítica. É seu direito de aceitar ou não ser ministra. Ela não aceitou.
Outro equívoco, que beira à promiscuidade: além de figurões da política encastelados em Brasília, a médica Ludhmila Hajjar contava com amplo apoio de integrantes do Supremo Tribunal Federal para assumir o Ministério da Saúde.
É razoável ponderar que ministros do Supremo Tribunal Federal não podem descer ao nível de interferir na nomeação de possível ministro. Sequer podem sinalizar preferências.
No sistema presidencialista de governo, nomear e demitir ministros é função estrita do Poder Executivo.
Onde está a separação de poderes que os ministros do STF tanto pregam?
De qualquer forma, foi bom a médica Ludhmila Hajjar não ter aceitado o convite para ocupar o ministério do governo Bolsonaro.
É um assunto a menos para alimentar polêmicas nesse governo marcadamente confuso.
Queira Deus que o médico Marcelo Queiroga não desista de assumir o Ministério da Saúde.
Queiroga e Ludhmila Hajjar são muito próximos. Em quadro assim, é natural que troquem impressões entre si.
Marcelo Queiroga é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Ludhmila é coordenadora da área de Ciência, Tecnologia e Inovação da mesma instituição.
Quem deve ter gostado mesmo da nomeação de Marcelo Queiroga é o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
Rui Costa vive às turras com o presidente Bolsonaro, certamente mais por razões políticas do que, propriamente, porque se preocupa com o povo da Bahia.
O secretário estadual da Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, é amigo pessoal de Marcelo Queiroga e já teceu elogios ao ministro, que vão desde “excelente capacidade de articulação” até “tem o dom do diálogo e da negociação”.
Fábio Vilas-Boas tem Doutorado em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e mantém estreito relacionamento com o novo ministro da Saúde.
Isto pode destravar as reivindicações da Bahia no que tange ao combate à pandemia no estado.
Quiçá o novo ministro amacie as relações Rui Costa-Jair Bolsonaro para o bem da Bahia, do Nordeste e do Brasil.
araujo-costa@uol.com.br