Conjectura-se, em Brasília, que será criado o Ministério da Amazônia, forma que o governo federal teria encontrado para entronizar o general Eduardo Pazuello, quando sair, se sair, da pasta da Saúde.
Não seria propriamente uma recompensa pelos “relevantes serviços prestados” pelo general Pazuello à frente do Ministério da Saúde, mas uma estratégia governamental com o intuito de manter o foro privilegiado de ministro de Estado do general, que está às voltas com um inquérito e outros à vista, por conta de sua pífia atuação no combate à pandemia.
A imprensa não inventa. Às vezes distorce os fatos para ajustá-los à vontade dos donos das empresas de comunicação que emprega os jornalistas canhotos.
No caso em tela, a imprensa publicou indícios de fumaça nos céus de Brasília e parece não ser o caso sequer de manter sigilo da fonte, porque o assunto já se espalhou.
Em Brasília, nem os servidores de confiança mantêm os segredos de seus superiores.
Questionado sobre a possível criação do Ministério da Amazônia, o general Mourão, vice-presidente da República, saiu-se com esta:
“Se for para direcionar a questão do desenvolvimento, a criação do Ministério será bem-vinda. Caso contrário, será um camelo à procura de um deserto”.
Culto, experiente e bem preparado intelectualmente, não se sabe se o insigne general Mourão usou apenas uma figura de retórica ou se quis denominar de camelo o general Pazuello.
Cala-te boca. Melhor, contenha-se meu teclado.
Nestes tempos estranhos em que vivemos, é perigoso expressar qualquer opinião ou comentário sobre nossas intocáveis autoridades, mesmo que ingenuamente, sem intenção de ofendê-las.
O governo, o Ministério Público e até o Supremo Tribunal Federal, que tem o dever de zelar pela Constituição da República, desenterraram a Lei de Segurança Nacional, entulho da ditadura militar e servem-se dela para processar qualquer incauto que se atreva a expressar seu pensamento, quer através da imprensa, quer através das redes sociais.
Os inquéritos instaurados com base na Lei de Segurança Nacional aumentaram 285% (O Estado de S.Paulo, 19/03/2021).
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, parece ter entronizado a Lei de Segurança Nacional no mais alto de seus altares e até já mandou prender um deputado federal com base nesse resquício da ditadura.
Há outros inquéritos no STF com base nesta lei, de resto incompatível com a vida democrática.
Pelo andar da carruagem, o próximo passo será o Supremo Tribunal Federal instaurar a censura nos meios de comunicação, livros e et cetera, vez que seus vaidosos ministros se elevaram à condição de legisladores, invés de interpretarem a Constituição e as leis.
A situação está tão assustadora que a Polícia Federal sinalizou que está sendo “instrumentalizada em brigas políticas” e que isto está atrapalhando o serviço dela (O Estado de S. Paulo, 19/03/2021).
E o que diz a famigerada Lei de Segurança Nacional, em seu artigo 26?
É crime: “Caluniar ou difamar o presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação”.
A pena é brava e vai de 1 a 4 anos de reclusão.
Pelo que se vê, é muito tênue a linha que separa um comentário despretensioso e sem maldade de uma ofensa do ponto de vista de quem se acha ofendido.
É certo que pessoas se excedem nas redes sociais, mas daí a tudo ser considerado crime vai uma grande distância.
Ou, então, não haverá presídios para todos que Suas Excelências entenderem criminosos.
araujo-costa@uol.com.br