“Saber libertar-se não é nada; o difícil é saber ser livre” (André Gide, escritor francês, 1869-1951)
Com estardalhaço, João Dória (PSDB), arremedo de govenador de São Paulo, anunciou que o Instituto Butantan inventou uma vacina “100% nacional” para o combate à covid-19 sob o nome de ButanVac.
João Dória está afundando o partido na lama da indecência e da arrogância.
O arremedo de governador disse, em entrevista ao vivo, que estava anunciando o inédito evento para São Paulo e “para o mundo”.
Risível, se não fosse a incapacidade de sorrir de todos nós nesse triste momento de pandemia.
Além de deslavada lorota, a atitude ridícula do governador de um dos mais importantes estados do Brasil deixa-nos constrangidos e envergonhados.
Como se sabe, hoje a notícia se dá em tempo real no mundo inteiro.
Imediatamente o Instituto Mount Sinai, de Nova York, desmentiu expressamente o governador-pavão e esclareceu que a vacina anunciada por João Dória está sendo desenvolvida por aquele famoso hospital americano e não pelo Instituto Butantan.
O Butantan é simplesmente parceiro na fabricação do invento e não inventor.
A diferença é monumental, mesmo para quem não entende dos meandros da ciência.
O Butantan apenas fabricará o imunizante, a exemplo do que está fazendo a partir dos insumos provenientes da China relativamente à Coronavac. Só isto. Nada mais do que isto. O Butantan apenas participará com a linha de produção do imunizante.
O Departamento de Microbiologia do Hospital Mount Sinai, de Nova York, foi claro e não precisou desenhar: “Estamos convencidos de que o Butantan é o parceiro certo para nossa vacina”.
“Nossa vacina”, disse o professor Peter Palese, do Hospital de Nova York. Logo, se a patente da vacina é deles, não é nossa.
Com o intuito de se aparecer perante o Brasil e o mundo, João Dória caiu no ridículo como, aliás, ele faz a cada pronunciamento.
Faltou a melancia pendurada no pescoço.
Feio para o governador-pavão João Dória e feio para Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, profissional respeitado no mundo inteiro, mas que está embarcando no furado e mentiroso navio do governador paulista, talvez com a promessa de ser ministro da Saúde num hipotético e improvável governo João Dória.
Dimas Covas, na condição de cientista, não podia ter omitido essa informação fundamental: a vacina em estudo não é 100% brasileira, como diz atabalhoadamente o governador-pavão João Dória.
O jornalista Josias de Souza foi magistral e cruel:
“O problema de quem lida com a meia verdade é optar pela metade que é mentirosa. A tentativa de João Dória de apagar as digitais americanas deu ao golaço uma aparência de gol de mão. Ou pior: gol contra”.
Mais, disse Josias de Souza: “Se a ButanVac é integralmente brasileira, segundo João Dória, Nova York fica no Brasil”.
A mentira deslavada de João Dória escancara ao mundo inteiro apenas um objetivo: que ele pretende destacar-se como candidato do PSDB à presidência da República em 2022.
Imbecilidade inominável.
A população de São Paulo e do Brasil pouco importa para o govenador-pavão João Dória.
João Dória está derretendo sua inexpressiva credibilidade em nome do obsessivo e doentio desejo de ser presidente da República.
Há nomes mais respeitáveis do que ele para essa disputa. Qualquer nome é mais respeitável do que ele.
Traidor, João Dória elegeu-se em 2018 na esteira da popularidade de Jair Bolsonaro e hoje desconversa sobre isto, embora cristalino. Não nega e não se diz arrependido.
João Dória não conseguiu libertar-se de sua pequenez. Continua na lama da insensatez e da arrogância .
João Dória e Bolsonaro demonstram-se incompetentes e narcisistas. É o momento de ficarem juntos.
Ou permanecerem hipócritas como em 2018.
A propósito do que assegurou o governador João Dória, a conhecida e respeitada bióloga Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, disse: “A vacina 100% brasileira funciona assim: os americanos desenvolvem, os vietnamitas e tailandeses arranjam os voluntários e a gente entra com o ovo” (O Estado de São Paulo, in Coluna do Estadão).
araujo-costa@uol.com.b