Há alguns anos li uma frase de James Taylor em que ele dizia que “o segredo da vida é desfrutar a passagem do tempo”.
A juventude dá-nos a utopia, os sonhos, o desejo de mudar o mundo, a vontade de vislumbrar horizontes promissores.
É aquela quadra do tempo em que o escritor Sérgio Granja diz: “A gente gasta a juventude na ilusão de transformar o mundo. Quanto se dá conta, já não sobra tempo para se adaptar a ele”.
A maturidade nos dá as preocupações, a necessidade de contornar as dificuldades, a tentativa de seguir adiante.
A envelhescência nos impõe o olhar para trás, o remoer da saudade, o analisar do tempo decorrido, nem sempre perdido, nem sempre desfrutado.
É o retrovisor da vida.
Parte de minha juventude vivi em Chorrochó, simpático município encravado no sertão da Bahia. Fiz parte da mocidade irrequieta do Colégio Normal São José.
Sou do tempo em que o prédio da Prefeitura, que o descaso de hoje transformou em ruínas, era o coração da cidade e o motor de suas decisões.
De lá às vezes vêm as notícias que não quero saber, mas preciso saber: a morte de amigos, pessoas queridas que turbinaram minha juventude de alegria e atapetaram meu caminho com as primeiras experiências.
Em datas recentes, foram-se José Evaldo de Menezes e João Bosco de Menezes, exemplos de vida e de caráter irrepreensível.
Neste tempo de Semana Santa, que as vicissitudes de agora não mais nos permitem vivê-la plenamente, recordo alguns pontos dessa passagem do tempo, em Chorrochó.
As vigílias da Quinta-Feira Santa na igreja de Senhor do Bonfim, em companhia da eterna professora Josepha Alventina de Menezes (D.Nilinha) hoje merecidamente nome de escola em Chorrochó.
D. Nilinha levava café, biscoitos e, algumas vezes, o refrigerante Fratelli Vita, que não mais existe.
Saíamos da igreja mais leves, cônscios de nossa pequenez diante do sentido da vigília.
Hoje parece que não levamos Deus muito a sério e quiçá, por isso, a humanidade descamba e definha em seus escombros.
Físico um tanto frágil, a grandeza de D. Nilinha estava no esteio de sua fé e no agigantamento da luta em defesa das tradições da igreja de Chorrochó, que remontam à fundação da Pia União das Filhas de Maria, que ela cuidava tão bem.
No sábado de Aleluia, em meio às brincadeiras folclóricas do Judas, destacava-se Francisco Arnóbio de Menezes, que alegrava o dia com seu espírito irreverente.
Espirituoso, Arnóbio preencheu, com a amizade, o sentido da vida de quantos com ele conviveram. Orgulho-me de ter sido, em algum tempo, um de seus interlocutores mais presentes.
Elegante, atencioso, gentil, incapaz de ofender qualquer pessoa, Arnóbio completava aquele tempo de decência e convivência sadia em Chorrochó.
Uma das grandes qualidades de Arnóbio era saber ouvir e apreender, com segurança, o pensamento do interlocutor.
Penso que desfrutar a passagem do tempo significa, fundamentalmente, fincar-se na construção de amizades duradouras.
No meu caso, em Chorrochó, difícil citar todas, mas algumas continuam presentes naquele recôndito da alma e do tempo: Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes, José Eudes de Menezes, José Osório de Menezes, Francisco Ribeiro da Silva, Juracy Santana, José Juvenal de Araújo, Carlos Bispo Damasceno, Fabrício Félix dos Santos (o querido “compadre Bilicinho”), José Claudionor de Menezes, Francisco Afonso de Menezes e tantos outros.
Feliz Páscoa a todos de Chorrochó.
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