José Afonso, o artesão da vida

José Afonso/Foto de sua página no Facebook.

“Os que admitem intenções belas nas coisas belas são espíritos cultos. Para eles há esperança. O artista é criador de coisas belas” (Oscar Wilde, 1854-1900)

José Afonso da Cunha Martins (1948-2021) reunia em si muitas condições e qualidades: ator, artista plástico, vigilante diuturno das coisas do sertão e defensor da caatinga. Dir-se-ia um ecologista sem estardalhaço, mas ativo e sempre presente.

Preocupava-se com a preservação de árvores e até chegou a plantar algumas representativas do sertão e presentes na vida do sertanejo, ainda que o tenha feito simbolicamente. Mas é tudo, fez o registro, plantou a esperança, deixou o exemplo.

Preservacionista, mas não conservador, artesão da vida e do significar das coisas belas. Impressionava pela humildade e firmeza de sua luta.

José Afonso “encarnou” Antonio Conselheiro a partir de 1997, em seguidos papéis que desempenhou, durante anos, nas estradas do esturricado sertão da Bahia, vivenciando o beato nas conhecidas Romarias de Canudos.

Mais: levou sua contribuição cultural até o município pernambucano de Exu, terra de Luiz Gonzaga, outro ícone da cultura nordestina.

A aparente fragilidade física contrastava com a força que ostentava no enraizamento de nossa cultura, quer no mister de seu variado e rico artesanato, quer na resistência cultural que representava.

José Afonso andou por São Paulo, onde foi ajudante de mecânico e operador de máquina industrial, dentre outras atividades, mas as raízes falaram mais alto do que o êxodo temporário a que se dispôs.

Nascido na Fazenda Boa Esperança, em Patamuté, lá também José Afonso cuidou das coisas da roça, a exemplo da criação de caprinos, em certa quadra da vida, mas a inquietude era maior e saiu do aconchego familiar para o mundo das artes. Chegou a participar de novela da Rede Globo de Televisão, o que acabou lhe dando maior visibilidade de sua grandeza artística.

A região sanfranciscana perde nosso Afonso Conselheiro, o Matusalém, o Minha Pedra, o artesão da vida.

Curaçá lhe deve uma homenagem perene e resistente ao tempo à semelhança de seu estilo e de sua luta.

Tarefa para a Câmara Municipal de Curaçá.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário