
Há alguns anos tenho em mãos, gentilmente enviado pelo autor, livro que entendo sinônimo de Curaçá e o é, sem dúvida: Caminhos de Curaçá.
O autor Esmeraldo Lopes dispensa quaisquer salamaleques. Ostenta elevado conceito nos meios universitários e intelectuais. Sociólogo, professor e escritor e, como tal, especialista em seu nobre mister. Curaçaense notável, insigne, conspícuo. Assim, sua ascendência, assim seu esteio familiar.
Por conseguinte, não há o que acrescentar à rica biografia do autor de Caminhos de Curaçá, porquanto sobejamente conhecido dentro e fora de Curaçá, nem é meu intuito fazê-lo.
As palavras do homem não têm fronteiras. Seu conhecimento é vasto, extenso, impressionantemente amplo.
Portanto, minguado em conhecimentos que sou, sinto-me incapaz de discorrer acerca desta obra que, por si só, é o que de mais abrangente foi escrito hodiernamente sobre o município de Curaçá.
Embora apoucado, escrevo. Mais para agradecer a deferência, que nunca esqueço e não me canso de repetir a gratidão quanto ao recebimento do livro.
Antes, lá pelos idos de 1916, um filho de Patamuté, João Mattos, escreveu sobre Curaçá, mas noutros contornos. Cada obra tem seu universo temporal.
Todavia, hoje me refiro a Esmeraldo Lopes e o certo é que ele é mestre na arte de escrever. Sabe interpretar magistralmente a linguagem do povo, os costumes do povo, o sentir do povo. E saiu-se com esses monumentais Caminhos de Curaçá.
É razoável supor que o escritor teve boa formação na chamada escola de sociologia paulista, abeberou-se em boas referências, a exemplo de Octavio Ianni, um de seus expoentes, mas é seguramente certo que tem suas raízes fincadas no sentir curaçaense. Inegável este seu liame telúrico.
O que me impressiona é que o homem tem linguagem disciplinada, que oscila entre a descrição histórica do município e a formação social de sua população. E o faz com tanto apego e fidelidade a nossas raízes que transforma o texto num retrato irretocável da realidade curaçaense.
Há uma uniformidade, um entrelaçamento e uma preocupação com a identidade de nosso povo de tal forma que o livro retrata Curaçá desde os primórdios e dá ao presente a resposta para o futuro, enquanto comunidade sertaneja. Pedindo escusas em razão de minha ignorância, arrisco dizer tratar-se de um tratado sociológico.
A convicção deste escrevinhador é no sentido de que outros caminhos o autor seguiu ao escrever o livro: o pisar na terra seca do sertão e a capacidade de ouvir os mais experientes para deles sorver a essência do livro. Sábios caminhos, benditos caminhos.
Estilo conciso, sóbrio, humilde. Leitura fácil e explicativa, ausência de expressões confusas capazes de dificultarem o entendimento.
Como bem diz, na orelha do livro, a professora Juscelita Rosa Soares Ferreira de Araujo, Caminhos de Curaçá permite ao leitor “descobrir pistas perdidas na lembrança, congeladas pela insensatez da memória imediatista que nos distancia daquilo que nos mantém vivos: um tênue fio entre o passado e o presente guardado em sentimos adormecidos, que o autor faz despertar, pela riqueza com que relata os fatos e pela clareza que expõe os sentimentos”. Uma síntese, uma verdade.
Na condição de caatingueiro curaçaense, adotei-o como livro de consulta quase que diária, até para matar as saudades do viver de nossa gente e das barrancas do Riacho da Várzea, lá nas bandas de Patamuté.
Suponho que as escolas de Curaçá também o tenham como referência obrigatória de nosso patrimônio cultural.
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