
Quando eu era mais abestado do que hoje – continuo sendo – candidatei-me a vereador em São Bernardo do Campo.
O Partido da Reconstrução Nacional (PRN), através do qual disputei uma vaga na Câmara Municipal, vivia em estado de euforia coletiva, em razão da filiação do então “caçador de marajás” e candidato à presidência da República, Fernando Collor de Mello, que saiu vitorioso e a história é sobejamente conhecida.
As forças políticas que abrigavam minha candidatura respondiam pelo nome de União Democrática Cristã (UDC), embora de forças nada tivessem, até por uma questão lógica. Se forças fossem, eu teria sido eleito.
Minha pomposa plataforma de campanha cingia-se, basicamente, às seguintes áreas: educação, saúde, habitação e transporte.
Utópico, eu pensava que seria possível consertar o mundo. Melhor, consertar os problemas do mundo de São Bernardo do Campo.
Quanta ingenuidade a minha!
Estamos em 2021. Em São Bernardo do Campo, tudo continua como dantes, com uma diferença abismal: piorou. O município tem 844.483 habitantes, segundo últimos dados disponíveis. Imagine o tamanho dos problemas.
Abandonei a política e os pilantras da política, logo depois da abertura das urnas, porque o dinheiro destinado à minha candidatura nunca chegou ao meu comitê e eu fiquei, com cara de galo, fazendo das tripas coração para sustentar minha campanha até chegar às urnas.
Pressuponho que o dinheiro tenha ancorado no bolso dos espertos, como ainda hoje acontece. E pressuposto é pressuposto, nada mais do que isto.
Embora estreante, tive boa votação, mas insuficiente para conquistar uma vaga na Câmara Municipal.
Quando me lembro de minha derrota nas urnas, sempre recordo que, em 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguiu reeleger vereador o filho de Lula da Silva, que ocupava uma cadeira no Legislativo de São Bernardo do Campo.
O caso dele foi pior. O pai tinha sido presidente da República.
O escritor Ernest Hemingway (1899-1961), autor do clássico Por quem os sinos dobram, dizia que “a luta pela sobrevivência confronta com os limites humanos”.
A luta pela sobrevivência política tem outro nome: safadeza. Independentemente dos limites humanos.
Os políticos no Brasil lutam pela sobrevivência de seus próprios bolsos e dane-se o povo, danem-se as necessidades do povo, dane-se a miséria do povo.
Como não sou disto, nem concordo com isto, peguei meu boné de baiano e escafedi-me em direção à luta honesta da vida.
Esta, sim, tem bons resultados, mesmo que nunca alcancemos a vitória.
araujo-costa@uol.com.br